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Should I have hissed her?

Exemplo idiota

Há algumas “dores e delícias” (pra começar citando “Caetano”) em ser audaz. Mas antes de continuar a ler, pare e leia isto aqui: http://julio-lemos.blogspot.com/2008/07/how-to-convince-groucho-marx-joining-my.html

Podemos tentar definir audácia de várias formas, a minha preferida, por ser abrangente o suficiente, é: “sair da zona de conforto por um objetivo”. Como disse o Christian num comentário no meu recente artigo B&C,”aos bons falta o ímpeto dos maus”. Discordo, e para cutucar o Leo de novo, eu corrigiria a frase para: “aos bonzinhos falta o ímpeto dos maus, que também é dos bons”. Como disse no mesmo artigo, o bonzinho não assalta um banco porque tem medo, o  bom porque não deve.

Farei aqui uma confissão pública: diversas atitudes torpes não foram tomadas de minha parte, não por senso do dever, responsabilidade, consciência do que é correto, mas por simples medo das conseqüências. Mas aqui não é confessionário, e nenhum padre me lê pra me dar o perdão sacramental. Vamos falar de atitudes moralmente neutras.

Demorei mais de 24 anos para aprender a andar de bicicleta. Aprendi há um mês, mais ou menos. Aprendi naquelas… Hoje, saindo de casa para fazer a barba e dar feliz aniversário pessoalmente à Izabel, antes de viajar para Porto Alegre (viagem que seria posteriormente cancelada), lembrei que havia aprendido a andar de bicicleta. Só havia feito trechos curtíssimos, e muito dentro da zona de conforto, tirando as duas primeiras vezes que tentei. Hoje, estava com um pouco de pressa, tinha pouco tempo, e resolvi pegar a bicicleta (na pior das hipóteses, eu vou carregá-la na mesma velocidade em que ando). Corri alguns riscos, a bicicleta tombou algumas vezes, uma boa parte do percurso eu nem tentei fazer (subidas muito íngremes, ruas movimentadas), mas a tímida audácia valeu a pena. Ganhei um tempo preciosíssmo que me faria falta.

Mas digo, não aprendi a andar de bicicleta todo esse tempo por dois medos: dos tombos e da vergonha. Passei um pouco de vergonha, me ralei um pouco (e foi bem pouco) no começo, mas o saldo é positivo.

A audácia é necessária. Num artigo recente sobre liderança do “The Art of Manliness” (a arte da macheza) — blogue excelente recomendado-me pelo Zé –, é dito com todas as letras: não é um líder quem não arrisca. Ou, em bom português, “quem não arrisca não petisca” (em bom inglês: nothing ventured, nothing gained).

Duas coisas são importantes no caminho da audácia: o sucesso e o fracasso. Parece óbvio, mas cada um é importante em um aspecto. O sucesso para manter a motivação, se somos audazes e fracassamos sempre, voltaremos à nossa medíocre zona de conforto. O fracasso para não nos assoberbarmos nem nos acharmos super-homens. Na medida em que somos audazes e conseguimos cumprir nossos propósitos sempre, podemos desenvolver um comportamento temerário.

É importante tomar um não no pedido de emprego, tomar um tombo de bicicleta, ver algo que tinha tudo pra dar certo dar errado, porque mantém nossos pés no chão. Mas tentando ter uma audácia mais firme e virtuosa a cada dia, eu vejo que vale a pena. A raiva, a dor, a sensação de impotência, isso é passageiro. Os ganhos para a alma são eviternos. A cojer las cuerdas y picos, aquela coisa toda…

***

Meus artigos, por uma coincidência — ou, pelo menos, de forma não planejada — vêm num crescendo nesse tema. Primeiro sobre a coragem, depois sobre a ousadia e o ímpeto e, agora, sobre a audácia. Ainda mais depois de ler o artigo do Julio, com a “jaculatória” de Hernan Cortez no fim. Esse é um tema muito importante para qualquer um que queira ser mais que morno, mais que bonzinho, mais que cumpridor das regras. A audácia é algo que nos torna (os homens) verdadeiramente viris e, no âmbito antrópico, plenamente humanos

Aproveito para um comentário marginal. Em uma campanha política, é preciso audácia também, e o César, candidato a vereador (e amigo meu) está cumprindo com isso. É preciso coragem para enfrentar as adversidades e ousadia para encarar situações novas, ainda mais apenas com o dinheiro de doações de amigos e obedecendo à lei eleitoral (não obedecê-la ajuda muito). Sim, eu forcei a barra só para recomendá-lo como candidato a vereador em Campinas, mas não é só isso, é claro. Audácia tem, e muito, a ver com a sua campanha.

Por fim, voltando, um outro escrito meu que talvez valha a pena a releitura, com a nova visão sobre coragem, ousadia e audácia, ainda mais em tempo de olimpíadas e eleições, é o “Vencer e Perder“. Se tiver um tempinho, dê uma conferida. Obrigado por me ler e até mais!

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Sábado passado foi dia de Santo Expedito. Um problema que tive durante algum tempo na Igreja foi a devoção dos santos. Explico. Aquela coisa de beatas pegarem um santinho e fazer uma “reza milagrosa” não me cheirava bem. Eu não gostava daquilo, de jeito algum. E era só pedir, e depois ir até Aparecida acender uma vela. Não gostava, repito. E, se quer saber, ainda não gosto.

Uma das coisas emblemáticas disso é o “apelido” dos santos: Santo Expedito é o “santo das causas urgentes”. Então, se a sua filha já está ficando velha e ainda não casou, reza pra Santo Expedito! Se a prova é amanhã e você não estudou, reza pra Santo Expedito. E tem o santo casamenteiro, o santo das causas impossíveis, o santo disso, o santo daquilo, e o daquilo outro também. É estranho.

O Padre Euclides, de quem só não puxei mais o saco aqui no blogue que o Julio Lemos, deu uma revolucionada na minha cabeça soberba e botou a devoção aos santos nos trilhos. Os santos são importantes pelo que fizeram: pela marca, pelo sulco que deixaram no mundo; para o Pe. Euclides são importantes pelos seus defeitos e fraquezas.

Hein???

Ah, meu amigo! Vamos por partes. Todos nós temos fraquezas, tentações, vicissitudes. Os santos também tiveram. E a maioria teve muitas quedas, antes e depois da conversão. Estudando como eles lidaram com isso (e nem precisa ser “católico”, basta admirar as virtudes e querer imitá-las), podemos agir semelhantemente.

Não vou citar santo por santo. Há um livro excelente chamado “The saints according to their handwriting” (se você lê italiano, leia o original: il i santi dalla loro scrittura, ou algo assim), do Padre Girolamo Moretti. Já falei dele aqui, é um livro que faz análise (cega) grafológica de escritos de santos, e mostra suas qualidades, defeitos e tendências. Todos os santos foram humanos como nós. É claro que não temos as chagas de Cristo nem delas sai perfume, como São (Padre) Pio de Pietrelcina, mas nem por isso as tentações não o atacavam.

O caso de Santo Expedito, contudo, merece ser citado. Ele era um cara pagão e devasso, como geralmente são os pagãos. Apresentado ao Cristianismo, sentiu-se chamado à conversão. Ele podia deixar pra amanhã, foi o que um corvo falou pra ele: chegou perto dele e começou: “cras”, “cras”, que em latim (ele era soldado romano, latim era sua língua mãe) quer dizer “amanhã”. Ele olhou pro corvo e berrou: “HODIE” (não preciso traduzir, né?).

Por isso ele é o “santo das causas urgentes”. Não só: por se converter, foi chicoteado até as vísceras e depois decapitado. Isso que é martírio. Eu acho de uma mediocridade sem tamanho chegar pra um cara desse e pedir pra ir bem na prova. Mas acho justo e necessário pedir-lhe, por exemplo, inspiração e intercessão pra não deixar pra amanhã as coisas. Foi isso que ele fez, e é nisso que ele pode me inspirar. Posso recorrer a ele para coisas mais medíocres, como recorro a São Bento quando vou entrar em lugares potencialmente perigosos (beco, caminhos escuros, etc.).

Essas coisas me fizeram recobrar a “devoção aos Santos”, mas de uma maneira que considero mais de acordo com “o que Deus quer de nós”. Assim fui compondo o meu “devocionário”. A São José peço dedicação ao trabalho e atenção; a São Bento, que eu cumpra o “ora et labora”; à Virgem Maria, pureza, humildade, obediência; a Santa Bakhita, que eu aceite os sofrimentos que a vida me impõe, a Santo Expedito, que eu vença as tendências de procrastinação e grite “HODIE”. Isso que eles ensinaram com sua vida, com seus momentos de fraqueza e de fortaleza. E é isso o que eu peço em oração para eles. Já disse, é claro que tenho intenções medíocres muitas vezes, mas isso era pra ser exceção, e não regra.

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Um comentário ortogonal: estou em Brasília, e vim para cá de Congonhas na quarta-feira. Entre outros políticos, viajei com Michel Temer, o único cara no mundo que consegue ser de extremo centro.

Por falar em política e em PMDB, o Kassab conseguiu apoio do Ércia, vocês viram (meu tio o chama assim, porque “o resto do nome ele já perdeu faz tempo”)? O Ércia (ou Quércia, se preferirem) é o cara que manda, hoje, no MR-8, que por sua vez publica o fantástico “Hora do Povo“. O jornal soltou um caderno em homenagem ao Stálin ano passado, e quando começou a guerra do Iraque, soltou a seguinte manchete: “Bush invade Iraque contra governo democrático de Saddam”. Maravilha da humanidade.

Essa aliança me deixou muito feliz porque eu poderei ver o HP (e o MR8 ) falando bem do Kassab e do DEM. Essa eu quero ver mesmo, e vou dar muita risada! Mas ainda não foi dessa vez, eles soltaram uma manchete criticando (MUITO levemente, diga-se de passagem) o apoio ao Kassab, preferindo um apoio ao PT. Mas vejam que pérola de jornalismo encontramos no artigo:

“Quércia sempre foi o líder da resistência peemedebista à submissão aos tucanos. Durante os oito anos do desastroso governo de Fernando Henrique, o ex-governador manteve-se na oposição ao neoliberalismo e ao entreguismo, coerente com sua trajetória de identificação com o povo e com as aspirações pelo desenvolvimento nacional (…) Fernando Henrique e Serra saíram do PMDB para fundar o PSDB acusando Quércia, exatamente em virtude de suas qualidades (…): uma política econômica de acordo com os interesses nacionais, a vontade de ver o Brasil como uma grande nação, a promoção do bem-estar do povo e, não menos importante, a competência administrativa”.

Stupendo!

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No Natal eu vou ver o bom velhinho, e por isso comecei a estudar italiano. Se alguém quiser me dar uma força, bater papo em italiano daqui a um mês mais ou menos, quando vou ter uma base para uma conversa de crianças, ou algo assim, eu agradeço. Estou usando um método autodidata, que apesar do título asqueroso, parece muito bom: “O Novo Italiano Sem Esforço”, da editora Assimil (parece que é publicado no Brasil pela E.P.U.). Há outras línguas, todas “O Novo XYZ Sem Esforço”. Já sei, nas três primeiras lições (que tomam apenas dois períodos de 20 minutos a meia hora cada, uma por dia), conjugar o verbo ser/estar e haver/ter, algumas palavras básicas, os elementos constitutivos da pronúncia e algumas palavrinhas chave. (Ademais, o método é tão politicamente incorreto que na lição dois você já aprende a pedir cigarro, isqueiro e assento de fumantes no trem).

Scusi, lei ha una sigaretta?

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Na quinta-feira fui a São Luis, cujo centro achei semelhante à parte antiga e acabada do centro histórico de Santos. É triste, é um lugar caindo aos pedaços. A cidade não tem cara de capital, parece mais caiçara que muita cidade por aí e, apesar da beleza natural e da beleza que ainda resta em algumas construções antigas, é uma cidade deveras “enfeiada”. O Maranhão é o lugar mais politicamente atrasado do país, é o único lugar que ainda tem um dono. Mesmo sendo um estado de 4 senadores (afinal, Sarney é senador pelo Amapá!), se tem algum benefício político é capitalizado apenas para os políticos. Tem um litoral privilegiado para portos, e uma posição logística excelente (muito mais próximo dos EUA e da Europa que Santos ou Tubarão), mas não há vigor na economia local (muito diferente do que vi em Recife, por exemplo, cidade pujante).

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Eu gosto demais das benesses do progresso. Pegar um avião, botar um iPod na orelha, e abrir um livro comprado no aeroporto, ter a garantia que um corticóide te salvará de uma dor que causava suicídios outrora, é excelente. Mesmo que o livro aberto seja Ortodoxia do Chesterton e a música ouvida seja uma missa de Palestrina (minhas opções), isso só demonstra outra coisa ainda mais fantástica dos tempos atuais: você poder escolher “em que época você quer viver”. Um contemporâneo de Bach, por exemplo, apesar de ter acesso a “música popular” melhor, teria menos chance de escutar música mais antiga do que eu, mesmo em uma sala de concerto.

Mas não boto minha fé no progresso. O progresso não é garantido, não é linear, pode-nos levar a melhor ou a pior. Gosto do que ele me trouxe, gosto demais, mas não o coloco em um altar e lhe presto culto, apenas agradeço às gerações passadas e presentes pela genialidade e pelo trabalho.

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Falando em Ortodoxia do Chesterton, comprei o livro meio que “no susto”. Ao passar pela livraria Laselva, no aeroporto de São Luis, olhei a vitrine como sempre olho, para saber quais são os livros de auto-ajuda do momento e vi, em destaque num canto da vitrine lateral, “Ortodoxia”. “Não pode ser o do Chesterton” — pensei — e, ao ver que era (e custava menos de 20 reais), entrei, chamei um atendente — “quero o Ortodoxia do Chesterton” — que ficou meio perdido, mostrei-lhe o livro na vitrine, e ele pegou uma cópia para mim em uma das bancadas da frente. Surpreendeu-me realmente e positivamente ver uma edição brasileira do livro, e não pude me furtar a comprá-lo. Para fugir do meu vício de comprar e botar na estante, comecei a lê-lo quase imediatamente, deixando para trás a leitura que havia começado no aeroporto de São Luis.

Li os prefácios no aeroporto e aqui no avião (onde fiz uma pequena pausa para fazer os meus relatórios de horas e despesas e escrever estas linhas), os dois primeiros capítulos. Já recomendo. O livro está tabelado a R$19,90 — uma pechincha — e você encontra com descontos por aí (para clientes do Mais Cultura está a 17,91), a edição é bacaninha e a leitura é leve mas profunda. Assim que cessar a turbulência voltarei para ele (ou para a carta Encíclica Spe Salvi, de Bento XVI — o livro que comecei a ler em São Luis –, que também recomendo e pode ser baixada gratuitamente do site do Vaticano ou comprada a preços módicos em livrarias, em edição conjunta da Paulus e da Loyola), pois estou instigado com sua entrada no tema com a questão da loucura e da razão.

Chesterton diz, com maestria, que o louco, o lunático, não é aquele que perdeu a razão, mas aquele que perdeu tudo menos a razão. E diz que só pode apreciar a loucura aqueles que são sensatos. Para o abilolado, a loucura é absolutamente normal, e ele não vê naquilo graça alguma. Por isso os poetas estão distantes da loucura: ao abrir mão dos excessos de razão, imaginam, e imaginando fogem do que é normal, correm muito menos risco de serem loucos. Não dá para concentrar 20 páginas de um mestre em metade de um parágrafo de um pedante um pouquinho culto da Tatâmbia como eu, vá lá e leia. Se não quiser gastar, deve haver e-books legais por aí — a obra é centenária, e é por essa comemoração que foi publicada no Brasil.

É isso aí, vou tentar escrever com mais freqüência (agora principalmente que parei de passar mal em aviões, há um tempo bom a ser aproveitado aí) de novo! Obrigado por me ler e até mais!

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Muitos cristãos não têm uma noção muito simples: “todo mundo” é pecador. A modernidade, a “ateização” da sociedade, leva a ignorar muitos dos pecados, tornando quem escolhe ter esses “santos”, e cria uma compensação: há certos pecados proibidíssimos. Não me confundam, há sim uma escalaridade na gravidade dos pecados. Mas hoje, nesse mundo da “paz mundial”, versão moderninha do paz e amor hippie, o pecado proibido é a violência, mesmo que não seja uma violência pecaminosa. Jesus Cristo, que jamais pecou, se hoje fizesse um chicote para expulsar os vendilhões do templo, seria atacado pela mídia.

Guerras são necessárias. Mataram teus amigos e vizinhos e vão te matar. Pecado é não agir de forma violenta para impedir: peca-se por omissão. E nas guerras, violência é o método. Deus nos deu a ira e a força violenta para usarmos em caso de necessidade. Acontece que o usuário dessas forças é um pecador, e pode usá-las de maneira errada mesmo com reta intenção. Aí entra a “ética moderna” e crucifica-o.

No filme “Tropa de Elite”, os policiais do BOPE são violentos, têm até um pouco de sadismo, mas agem com a reta intenção de acabar com o tráfico, ou pelo menos reduzi-lo ou ainda contê-lo. São pecadores como eu, você, ou o maconheiro da esquina. Os traficantes, muitas vezes, agem por sadismo. São pecadores como todos nós, mas o pecado deles destrói vidas e impede os demais de prosseguir na virtude. Devem ser impedidos, e (reitero!) só podem ser impedidos por outros pecadores.

Nos anos 70, os EUA sofreram um surto de violência “gratuita” terrível. Não vou explorar as origens disso, vá ler o Olavão. A reação veio: Charles Bronson e o “Desejo de Matar” e Dirty Harry, o policial honesto, intransigente e violento, interpretado por Clint Eastwood. Capitão Nascimento — protagonista de “Tropa de Elite” — é o nosso Dirty Harry. Seja bem vindo!

Na primeira metade do filme, Nascimento marca muito ao dizer: “Eu sempre me pergunto: quantas crianças a gente tem que perder pro tráfico só para um playboy rolar um baseado?”. E bate, estapeia, humilha, tortura, ao mesmo tempo que chora, se condói, comemora e agradece. É a personagem mais bem construída que vi nos últimos tempos: ele é intensamente humano, plenamente pecador, mas age pelo que considera justo e correto. Não é um santo nem um demônio, não é um animal nem um “espírito evoluído”: humano. Choca-se com seus atos? Ora, olhemos para a nossa vida, para a nossa vileza! Será que o que fazemos não é tão ruim quanto?

“Tropa de Elite” é um filme excelente. Queira Deus seja o início uma reação como a que houve nos EUA nas décadas de 70 e 80. Eu li em um artigo de opinião no Estadão que ele abria uma nova era no cinema brasileiro: a era da pirataria (para quem não sabe, o filme será lançado dia 12 de outubro, mas já pululam cópias por aí) cinematográfica. Que o filme possa não ter apenas esse marco.

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Um grupo, “Stop Islamization of Europe” (traduzido por mim livremente para “Detenha a Islamização da Europa), promoveu uma passeata (você ouviu falar?) contra a islamização européia e a favor da democracia e da liberdade de imprensa. A manifestação foi proibida pelo prefeito “pela integridade dos manifestantes”. Eles a fizeram da mesma forma e foram presos. A maior prova de que a Europa está islamizada, já que manifestações pró-Islam e anti-E.E.U.U acontecem sem maiores imprevistos. Quando da proibição, eles publicaram um manifesto que faço questão de traduzir.

Uma manifestação européia pacífica que quer proteger nossos preciosos valores europeus, como democracia e liberdade de expressão, foi banida por uma pessoa! Um prefeito na capital da União Européia: Bruxelas. O ano é 2007.

Esta manifestação poderia chatear a comunidade muçulmana na cidade, então o prefeito disse que não poderia garantir a segurança pública. E estava, portanto, banida.

Deveríamos obedecer a decisão do prefeito? Se formos assim mesmo, seremos tachados de criminosos pelos políticos e pela mídia?

Vemo-nos como bons e pacíficos cidadãos, que não têm problema em obedecer as regras em nossas sociedades democráticas. Sim queremos obedecer as regras, queremos obedecer nossas regras de liberdade de expressão, nossas regras de direito à congregação pública, essas são nossas leis democráticas (Especialmente. artigos 11 e 12). E são nossos direitos também, que neste momento estão sendo suprimidos.

De fato, ao contrário, seríamos criminosos se recuássemos agora e obedecêssemos a decisão do prefeito, pois daí obedeceríamos as “leis da violência”. Este é o motivo pelo qual a manifestação foi proibida: por causa de ameaças de violência! Por que deveríamos obedecer uma proibição baseada em ameaças de violência por contra-manifestantes?

Pensamos em prazos maiores. Se aceitarmos essa proibição, faremos o objetivo de parar a islamização mais difícil ainda no futuro, então nós de certa forma aceitaremos que muçulmanos têm o direito de ameaçar com violência e, desta forma, o poder de evitar que manifestações pacíficas aconteçam no futuro.

Esta não é a hora de ser “legal”. Novamente pensamos em prazos maiores. Escolher ser legal e cidadãos obedientes neste assunto específico pode salvar nossa pele, mas ao mesmo tempo lançamos ao futuro da próxima geração os problemas. Como se lançássemos lixo poluente no mar ou no solo, para a próxima geração tratar dele, em vez de o tratarmos nós outros aqui e agora. Em respeito a nossos netos.

De fato, ajudaremos a islamização ainda mais se obedeceremos agora ao prefeito. Os muçulmanos que ameaçam com violência verão isso como uma vitória. Eles saberão que os europeus são facilmente assustados, e poderão usar essa estratégia no futuro.

Ao invés, obedecendo nosssos direitos democráticos, nós ajudamos as pessoas que têm que lidar com a islamização em seu cotidiano. Eles poderão ver que há algumas pessoas corretas que estão dispostas a se levantar e lutar sua batalha, uma luta que eles podem não enfrentar sozinhas por medo de perder seu emprego, medo da violência, medo da marginalização, etc: Nós estamos a dar esperança às pessoas pelo futuro, e não vamos e não podemos recuar.

Não obedeceremos as leis da violência, obedeceremos as leis da democracia e da liberdade de expressão!

Esteja na história! Esteja lá!!

Poderia haver mais gente assim no Brasil…

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Das razões deste escrito

Estive hoje, data da escrita deste documento, no Conselho de Representantes de Unidades (CRU), espécie de “senado” do movimento estudantil da Unicamp, sobrepujado em autoridade somente pela assembléia geral e pelos congressos anuais, e que congrega representantes eleitos de forma direta e representantes escolhidos pelos Centros Acadêmicos.

A pauta consistia da discussão a respeito dos “decretos do Serra” (São conhecidos dessa forma os decretos de 51.460 de 01/01/2007, 51.461 de 01/01/2007, 51.471, de 02/01/2007 e 51.636, de 09/03/2007 e 51.660, de 14/03/2007), cuja síntese (enviesada) pode ser lida em http://www.adunicamp.org.br/S%EDntese%20Decretos%20Serra.pdf . É consenso no movimento estudantil que esses decretos precarizam a Universidade Pública, tiram-lhe a autonomia, e fazem parte de um projeto privatista das Universidades (obviamente tramado pela burguesia).

Ao comparecer ao CRU — com dois amigos de quem discordo politicamente, mas dou testemunho de sua inteligência e honestidade — o que ouvi foi uma repetição, com palavras distintas, desses pontos. Às vezes uma pessoa que não estava sob os efeitos da Cannabis falava com uma dicção um pouco melhor, mas o conteúdo não mudava. Fiz uma fala, de alguns segundos, que reproduzo da melhor forma que lembro: “O debate aqui não passou da medula. Ninguém pensou nos pontos e só repete discursos prontos. As falas chegam à medula, e vem a reação imediata. Ninguém pensou no que é Universidade, no que a sociedade tem a ver com a Universidade, qual é o sentido do Estado, o que o Estado tem a ver com a Universidade. Ninguém pensou a respeito da dicotomia colocada por Bourdieu de sociedade e mercado. Retiro-me”. Alguns, ironicamente, pediram para eu fazer uma fala maior para “iluminá-los”. Disse que escreveria um texto. Embora ache que ninguém acreditou nisso, cá está o texto. Vou explicar a minha fala e tratar de alguns outras coisas que vejo no movimento estudantil e que me incomodam, com o intuito de ajudá-los a trilhar o caminho da honestidade intelectual.

Antes de tudo, um pequeno comentário

Um pouco antes do reboliço citado, chamei meus dois amigos a saírem da sala do DCE para fazermos um “debate qualificado” lá fora. Para quem não sabe, “debate qualificado” é como os comunistas se referem a qualquer debate em que eles consigam moldar a linguagem e ser a opinião hegemônica, já que assim ele está livre das amarras da “alienação”. Poderia fazer uma seção inteira com o glossário de termos comuno-socialistas, tais como “bandeiras históricas”, “unidade do movimento”, “educação superadora”, e os já citados “alienação” e “debate qualificado”. Só o último é necessário, e mesmo assim nem é tanto. Retomo a seguir.

No nosso debate qualificado, entre outras coisas, citei que achava um absurdo a burrice deles de não fazer “debates” com as duas (ou mais) opiniões a respeito do assunto, e sim uma voz única, já que mesmo que o intuito deles fosse doutrinar, eles só poderiam fortalecer as opiniões a seu favor expondo a opinião contrária. Nesse momento chegou um dos diretores do DCE, por quem tenho um especial apreço, e falei: “Meu comunista favorito, você não acha que só dá para formar uma opinião se forem expostos os dois lados?”, no que ele concordou inteiramente, e ainda reiterou citando o Princípio de Identidade. Em seguida perguntei: “Por que, então, não se fez nenhum debate com alguém favorável aos ‘decretos do Serra’?”, no que não obtive resposta.

Entre as hipóteses citadas pelos meus amigos para esse comportamento aparentemente desprovido de inteligência, lembro-me das seguintes: “vai que alguém muda de idéia” e “quantos desses estão realmente interessados em formar uma opinião sólida? Dos 35 que lá estão, acho que 33 não estão”.

Dos pontos que elenquei

Discursos prontos

Não é surpresa para ninguém (e é muito triste que não seja) que os debates estudantis (e muitas vezes os docentes) acerca de questões políticas só repetem alguns discursos prontos. Esses discursos são encontrados nas “reuniões de formação” dos partidos ou grupos políticos e em artigos de jornal de pensadores sociais tidos em boa conta pelos militantes estudantis.

Qualquer coisa que fuja disso, choca-os. Eles conhecem os seus discursos, os discursos do grupo político oponente, e brigam quem consegue mais falas, para fazer valer o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Se alguém chega com algo diferente, inesperado, é clara a sua impotência ante a situação.

Já vi, por exemplo, propostas de algum raro estudante que usa o cérebro que contemplavam os dois lados da contenda. E o que acontecia? A proposta era negada por ambos os grupos, porque eles não sabiam como agir. Não estavam preparados para pensar, desligavam o cérebro e reagiam com a medula. É irônico o suficiente que eles só concordassem em discordar do que ambos concordavam.

Também era notório o embasbacamento temporário a que eu os submetia falando qualquer coisa que fugisse do molde do debate. Eles demoravam algum tempo para dar partida no cérebro, e o cérebro respondia para que eles usassem o trator e discordassem logo, porque ele não queria trabalhar. Afinal, cérebro de comunista não foi feito para ser explorado. Ai de quem tentar extorquir-lhe a mais valia!

O que é Universidade?

Eu não sei o que é Universidade além da minha vivência nesses últimos 6 anos. Também não sei a que ela serve nem a que ela deveria servir, exceto umas apostas que fiz, junto com alguns amigos, em duas teses a Congressos de Estudantes da Unicamp (essas teses estão publicadas no meu blog: Uma noite e meia e Angiosperma Dicotiledônea Cariófila — Abaixo a Média 7).

Já pensei no assunto, contudo, e tenho algumas opiniões temporárias, que eu não valorizo mais do que isso: opiniões. Tendo em conta o que é Universidade, a que ela serve e a que ela deveria servir, eu me posiciono a respeito dos pontos e penso a respeito de projetos possíveis para a Universidade.

Só duas coisas eu tenho certeza a respeito da Universidade, e são as únicas que aqui exporei. Minhas opiniões não interessam. Essas duas coisas são: ela deve servir à ampliação do conhecimento e buscar a verdade. Ampliação do conhecimento de quem? Não sei. Que tipo de conhecimento? Não sei. Verdade a respeito de que temas? Não sei. Tenho cá minhas opiniões, mas repito: não cabe expô-las aqui.

No movimento estudantil, todo mundo (Quando digo “todo mundo”, refiro-me a uma generalização razoável para que, em uma pesquisa estatística, a proporção da amostra que tenha aquela característica seja de 100%. Se você não se encaixa, não se sinta ofendido, mas antes encorajado a lutar para aumentar a proporção da sua característica e não ser desconsiderado), todo mundo diz que a Universidade deve servir à classe trabalhadora, e produzir um conhecimento social que contribua para a “transformação da sociedade” (mais um termo do duplipensar comunista, que significa simplesmente a implantação do socialismo (na verdade ele significa muito mais e mereceria um capítulo à parte. Fica para outra iniciativa.) ). Se eu pedir para alguém explicar o que isso significa, talvez eles não consigam cumprir.

Sociedade e Universidade

Nisso tudo, como a sociedade se relaciona com a Universidade? O que é autonomia para a Universidade, é seguir o caminho do conhecimento? É obedecer os anseios da sociedade? E esses anseios, são refletidos no governo? Onde a autonomia se encaixa nisso tudo? Eu, que evito usar a medula (tenho reações lentas, de fato), não consigo responder nada disso. Sem isso, não dá para discutir autonomia, rumos, e quais são os direitos que o governo têm sobre a Universidade.

Estado?

A conceituação de Estado também se faz necessária. É totalmente diferente um Estado mínimo liberal, um Estado “pequeno” conservador, um Estado de bem-estar social, um Estado grande (por exemplo, populista) e uma ditadura do proletariado nos moldes leninistas. Ao escolhermos o comportamento que desejamos do Estado é que podemos começar a falar de ingerência do governo na Universidade. Em quais dessas formas de Estado a autonomia pode ser defendida? Talvez em quase todos, mas com certeza não na “ditadura do proletariado”, já que o proletariado tem que patrulhar a Universidade (um aparelho ideológico, para Althusser) para evitar o renascimento dos ideais “burgueses”. Então, o que aquele bando de leninistas está falando de autonomia?

Sociedade e Mercado

O sociólogo Pierre Bourdieu dizia que, na sociedade capitalista, o conceito de sociedade se confunde com o conceito de mercado. Isso foi usado (de maneira correta) por um professor contra a “Universidade Nova”. Mas essa análise é mais ou menos “neutra”, no sentido que ela pode ser usada para tanto detratar o capitalismo, como para defendê-lo. E, se ele estiver correto, na sociedade capitalista a Universidade que corresponde aos anseios da sociedade é aquela que corresponde aos anseios do mercado. Não se pode defender a efetivação dos anseios da sociedade na Universidade ao mesmo tempo que se critica o seu caráter “mercadológico”. Isso é muito importante. É uma questão de honestidade, já que os “anseios sociais” que o militante defende nada mais são que os anseios dele.

Para se defender uma Universidade que não siga o mercado, é necessário que: ou se negue (intelectualmente, por favor, não com uma birra!) a tese de Bourdieu, ou não se coloquem os “anseios da sociedade” como guia para a Universidade, e sim um projeto de iluminados ou outra coisa que o valha, por exemplo, a tese conservadora: “a Universidade deve ser autônoma para suas pesquisas, e dane-se o resto”. Não deixa de ser irônico ver socialistas defendendo uma causa conservadora. O que eles não podem é defender isso e os anseios sociais ao mesmo tempo.

Da ignorância e da desonestidade

Há, basicamente, dois tipos de militantes estudantis: os ignorantes e os desonestos. Explico, com um passeio pelo pouco que conheço do marxismo, e de sua evolução intelectual.

Karl Marx postulou de uma maneira quase determinística o fim do capitalismo e o advento do socialismo, preparação para o comunismo. O desenvolvimento capitalista levaria à saturação do sistema e sua queda. O crepúsculo seria acompanhado da revolução socialista, que derrubaria o governo capitalista e imputaria a ditadura do proletariado.

Aos países que não tivessem atingido um desenvolvimento capitalista suficiente, caberiam duas opções para que alcançasse o estágio necessário para a revolução: serem destruídos ou atingir, sozinhos, esse desenvolvimento num prazo maior.

Marx também advertiu que o capitalismo tinha suas defesas, entre elas o “aparelho de Estado”, que mais tarde viria a ser chamado de “aparelho repressivo de Estado”, em contraposição à definição, de Althusser, dos “aparelhos ideológicos de Estado”. O “aparelho de Estado” consistia na polícia a serviço do governo burguês. Com Althusser, as sedes de formação social entraram na turma dos aparelhos, mas como aparelhos ideológicos: a escola, a Igreja, a família que, para ele, incutiam a ideologia burguesa na cabeça dos alienados coitadinhos.

Lênin, ao colocar na prática as idéias marxistas, descobriu duas coisas: a revolução poderia ser feita antes do desenvolvimento capitalista, que seria feito pela própria ditadura do proletariado; o “esquerdismo” não era benéfico ao projeto socialista, porque desviava o foco da revolução, através de demandas imediatistas ao Estado burguês. O próprio Lênin combateu o esquerdismo enquanto promovia o desenvolvimento capitalista na Rússia soviética, até ser sucedido por Stálin.(José Genoíno disse, em entrevista à Folha de São Paulo no dia 07/02/2005, que o governo Lula seguia a linha leninista de prover o desenvolvimento capitalista para criar as condições para a instauração do socialismo)

Contudo, os estudos posteriores de diversos autores do “Marxismo Ocidental”, principalmente Gramsci, Lukács e Horkheimer mostraram que o esquerdismo poderia ser útil ao movimento revolucionário, já que as suas demandas e manifestações serviam para degradar o Estado burguês ou as bases em que estava assentado. Dessa forma, os comunistas deveriam apoiar as causas esquerdistas e todas as causas “anti-ocidentais”, ou ainda “anti-logocêntricas”, pois isso serviria a transformar a opinião pública. Usando o Althusser, a idéia deles era tomar os aparelhos ideológicos de Estado para si, e usá-los no molde da mentalidade da população.

Isso é o básico do básico do marxismo. Eu li três capítulos d'”O Capital”, um do “Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado” (de Althusser), algumas palavras espalhadas de Lênin, e apuds de Gramsci e da Escola de Frankfurt e isso é tudo que eu sei.

Existem três “gradações” de militantes marxistas: os primeiros sabem só o marxismo de Marx. Não avançaram até Lênin. Sabem teoria mas não sabem estratégia. Em seguida, há os que estudaram Lênin e conhecem estratégia marxista. Os que estão no DCE (ou pelo menos os seus capos) estão, majoritariamente, neste grupo. O terceiro grupo, aqueles que conhecem ou Gramsci ou a Escola de Frankfurt são uma minoria, principalmente alunos do IFCH e da Economia que se metem muito pouco com o movimento estudantil e, claro, os grandes ideólogos dos partidos de esquerda que formam sua baixa militância (seus idiotas úteis) nas Universidades.

Quando vejo os debates no movimento estudantil, vejo esquerdismos perdidos. Se os “esquerdistas” estão no primeiro grupo, eles são ignorantes, já que não sabem que o “esquerdismo é a doença infantil do comunismo”. Se estão no terceiro, são estrategistas que usam o esquerdismo para degradar o Estado burguês e, portanto, insinceros, já que dão a impressão de acreditarem naquelas causas. Eu ainda não consigo enxergar uma causa para militantes do segunda gradação defenderem causas esquerdistas, mas que o fazem, isso vejo com os meus olhos. Talvez recebam ordens de seus partidos, a única hipótese que fá-los parecerem com um mínimo de inteligência: não pensam, mas respeitam as ordens de quem pensa.

Pelo fim da maldade no mundo! Pela democratização do amor e da amizade

O título desta seção conclusiva é formado por duas propostas submetidas a Congressos de Estudantes da Unicamp, o que mostra o nível a que os debates caíram. A título de nota, a primeira foi rejeitada, a segunda foi aprovada com algumas alterações. As duas são bizarrices tremendas, a primeira é o desejo gnóstico-revolucionário, a segunda quer dar direitos constitucionais a respeito do amor a todos. Já pensou?

Da atuação dos partidos no movimento estudantil

Eu não preciso falar da torpeza que é a atuação dos partidos no movimento estudantil. Eles formam seus quadros, pagam cursinho, e falam em qual Universidade eles devem entrar. Por exemplo, neste ano três membros do PSOL entraram em Ciências Sociais, vindos de outros cursos da Unicamp. Uma garota, do mesmo partido, entrou em Letras, vinda de outra Universidade. Essa prática também é bastante difundida no PCdoB, e não duvido que aconteça o mesmo no PT, no PSB, no PDT e no PSDB.

Nada é tão maléfico ao movimento estudantil como isso. Se você pega um movimento com pessoas inexperientes, que discutem o que não sabem, mas que são honestas, é possível construir uma militância ética. Quando o compromisso das pessoas não é com os estudantes, mas sim com um partido ou com uma ideologia, não há nada que os estudantes possam fazer se não lamentar, ou, se tiverem força, juntar-se e peitar esses aproveitadores.

Também não preciso falar outra coisa: o que esperar da atuação desses partidos no governo da população, se na briga por um espaço bem menor, os “fóruns do movimento estudantil”, a coisa é tão vil? Que moral têm esses militantes para falar de ética?

Oração

O ensino superior espera ser populado por pessoas inteligentes, por pessoas aptas a ingressar em estudos superiores, o nome mesmo diz. Se não é isso que os militantes querem, a gente discute depois.

A Unicamp é conhecida nacionalmente, quiçá mundialmente por seus méritos na pesquisa acadêmica. Suas vagas são disputadas por alunos de todo o país, que buscam o brilhantismo em seus pares, para terem garantia de um nível de estudo adequado à sua prévia preparação.

Quando você pensa em um movimento político em uma Universidade de tal porte, você esperaria encontrar pessoas inteligentes, estudando a fundo os problemas que debatem, conhecendo o problema em toda sua amplitude, conversando com especialistas das mais diversas orientações e posicionamentos sobre o assunto.

E quando a situação que você encontra é, não apenas diversa, mas oposta a essa, com militantes repetindo discursos de partidos de meia tigela, submetendo-se a Zés Manés em vez de tomarem as rédeas do debate — fazendo jus à formação que deveriam ter –, com estudantes dos últimos anos de humanas não sabendo o básico do marxismo, ou fingindo que não sabem, a desolação não tem tamanho.

O que falei nesta tarde não foi com raiva, não foi para expressar superioridade. Foi algo sincero e repleto de tristeza. Não quero nem imaginar o que acontece nas outras Universidades, pretensamente piores do que a Unicamp. A Verdade liberta, mas nem sempre é agradável.

Tudo que podia fazer quanto a isso foi feito. Escrevi estas linhas. Não quero mudar o posicionamento político de ninguém, só quero honestidade e estudo. Mas sei que só um milagre pode mudar tão deteriorada situação. Rezemos.

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