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Archive for outubro \30\-03:00 2007

São Tomás de Aquino nos ensina que Deus nos dá duas energias fortíssimas: a ira e o έ̔ρος (eros). Com a ira podemos tirar força de onde não existe, podemos nos insuflar contra o mal e fazer atos heróicos que não nos seriam possíveis em nosso “eu comum”. O senso comum já nos diz que o raivoso se transforma. O uso correto, contudo, da cólera é contra o mal, e não contra o mau. O ódio se faz útil quando não é voltado para o malfeitor. O malfeitor pode se converter, e o ódio a ele se torna um elemento ruim. O mal sempre será mau, e a Tradição nos diz que não pode amar o bem aquele que não odeia primeiro o mal.

Uma analogia riquíssima vale para essas energias: entendamo-las como a água. Se a água fica presa em barragens, é tão forte que acaba por destruí-las, para não destruí-las, precisa de uma válvula de escape, que nos faz perdê-la. Se a água vai para onde quer, provoca destruição, catástrofe. Se a água é canalizada ela traz a vida e o bem. Voltemos à ira: se guardamos nossa raiva, precisamos de uma válvula de escape (um saco de pancadas, por exemplo) e nossa raiva não serviu para nada; poderia ser pior, poderíamos explodir: e explodindo causaríamos destruição! Todo mundo sabe como são ruins os “esquentadinhos”. Se, por outro lado, canalizamos nossa cólera, poderemos combater as injustiças, empurrar o carro do nosso amigo, encher de tapas e trazer de volta à realidade uma pessoa que esteja ficando maluca.

Esta coleção de artigos fala da lascívia, é isso que significa πανκαταπυγία. ( πυγή significa “anca”, “nádega” (daí calipígia). κατά é, entre outras coisas, o movimento de cima para baixo (daí catarse, catatônico). καταπυγή significa, literalmente, “nádega que vai de cima para baixo”, ou seja, sodomita. Esse era um insulto mais ou menos grave na Grécia (contrariando todo o consenso entre os professores de história que dizem: na época, todo mundo era gay). Desse insulto, adicionando o prefixo παν (tudo, daí panamericano, panteísmo, etc.), têm-se o grego para “lascivo”. Coloquei um ια no fim, e pronto. ) Mas, se no senso comum a idéia que se têm de ira é idêntica à da Tradição, quanto ao eros isso não vale. E agora peguem tudo que eu falei da ira, e apliquem, strictu sensu, ao eros.

Vamos por partes: quem se “reprime” demais no sexo, acaba explodindo. Acho que nem os puritanos discordam disso. Ou então, precisa de uma válvula de escape: pornografia, masturbação. Quem explode: os tarados, estupradores, pedófilos são malvistos também, sabe-se que eles não vivem de maneira sadia a sua sexualidade (com exceção talvez para o jovem “pega todo mundo”, que tem até pose de bom moço). Então como “canalizar” o eros? A resposta natural é: monogamia.

Eu defendo a monogamia mesmo para os não-crentes. Eu poderia tratar aqui de como o sacramento do Matrimônio é importante, mas a monogamia é mais de 50% da sexualidade sadia. Contudo, e isso é um dos elementos principais da situação lasciva hodierna, a formação dos casais têm acontecido cada vez mais tarde. E sabemos — todos nós temos vísceras, ou não? — que o impulso sexual vem cedo. Como lidar com isso sem prejudicar a si nem aos demais?

Um parêntese: Aviso àqueles hodiernos demais, que pensam que aqui faço um “moralismo puritano” que mudem de idéia, estou tentando achar a receita da felicidade, a ética no sentido clássico (aristotélico), e corroboro com meu amigo Julio Lemos: «Com um pouco de observação, percebemos que nossos deveres vão além do ser inofensivos. Veremos que o melhor é ser melhor: crescer em cada uma das virtudes, até os mínimos detalhes, aprendendo a ter prazer naquilo que é bom, e não naquilo que agrada só aos sentidos.»

Uma pessoa que não faz sexo — um celibatário ou um casto, por exemplo — precisa também canalizar o eros, e não reprimi-lo. Há padres que reprimem o eros e nós sabemos qual é a válvula de escape deles. Na melhor das hipóteses, é o dirty talk. O eros, e aí está uma coisa que a sociedade moderna esqueceu (sim, esqueceu, pois já soube), é um dos elementos constitutivos do amor. Bento XVI deixa isso bem claro na encíclica Deus Caritas Est (vá lá, leia, e veja se não faz sentido, mesmo que você não seja católico). E é possível (ora, o que não é possível é que façamos sexo com todas as pessoas que amamos) “amar sem trepar”. Só que a energia do eros é muito forte, a mais forte que recebemos. Portanto não pode ser uma mera “filia”, um amor de amigo. Deve ser um amor plenamente comprometido, por uma vasta gama de pessoas. Pode ser também a santificação do trabalho: despejar o amor erótico no trabalho, por que não? Isso é difícil de aprender; para o católico, o caminho é mais fácil: vida de adoração a Deus, comunhão diária, tudo isso “canaliza” o eros. Quem nos ensina isso muito é Santa Teresa D’Ávila, que sofreu com tentações de luxúria a vida inteira (segundo o exame grafológico presente no livro “I Santi dalla loro scrittura”, de Girolamo Moretti, ela tinha a personalidade de uma ninfomaníaca): foi quiçá a maior mística da história (volte ao prólogo agora, se desejar).

O eros dedicado a Deus é nos ensinado desde sempre: basta ver quão sedutora é a passagem bíblica da pecadora que lava os pés de Jesus e os enxuga com os cabelos (há nos sinópticos, mas eu prefiro a versão de João, capítulo 12). Ora, quem dirá que não havia eros nos atos daquela mulher? E que foi-lhe respondido? Que ela muito amou, e por isso muito tinha lhe sido perdoado.

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Se você quer ser corajoso, há de ser primeiro um forte, caso contrário você é apenas idiota. Você não sabe atirar, não tem músculos, não sabe manusear uma faca. O que você vai fazer na linha de frente de uma batalha? Morrer sem sentido, essa é a resposta. Não serve nem de escudo humano.

É como aquele velho adágio: si uis pacem, para bellum. Os homens têm o dever de ser corajosos, então cabe-lhes a tarefa de ser fortes. Se não são, melhor não terem arroubos de coragem. Fazem melhor em começar a musculação. Contudo a coragem não é só a coragem física (mas não podemos deixá-la de lado), então preparemo-nos em outras áreas: agüentemos pressão e escárnio, sejamos cultos, inteligentes e sábios, afinal temos o dever de defender a Verdade, mas se não a conhecemos, melhor calarmos. É honestidade intelectual.

Nisso, o treinamento do BOPE mostrado em “Tropa de Elite” é excelente. Quem sai de lá sai forte em todos os âmbitos de atuação de uma tropa de elite: estão peraparados para risco de morte, dor, pressão, porrada. A Universidade deveria dar força intelectual, não o faz. Cria uns arrogantes que são, no máximo, cultos. Exatas inclusas. Eu incluso.

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Um dever entre os esposos, segundo o Padre Léo (da RCC), é serem bonitos e bem cuidados. Ele está certíssimo mas eu adiciono: é um dever de todo mundo prezar pela estética sua, dos seus, e das suas coisas. Bom e belo são conceitos idênticos no Grego, e semelhantíssimos ainda hoje (e não falo aqui do trocadilho da “mulher boa”). Sendo belos, embelezamos o mundo, sem contar que a Verdade é bela. Nas religiões não dicotômicas, ou seja, naquelas em que corpo e alma são indissociáveis e ambos fazem parte da integralidade da pessoa, isso torna-se bem claro: corpo são, mente sã, não é um mero hedonismo, era uma regra de vida de muitos monges. São Tomás fez um belo regime no fim da vida, e diz-se-ia que era possível amarrar suas pelancas entre si.

Falando nisso, um dos grandes bens de se ter uma barriga protuberante e querer reduzi-la é perceber certas verdades a respeito da vida. Se eu decido emagrecer hoje, e faço um regime por uma semana, até perderei alguns quilos, talvez seja visível a mudança, mas não estarei “magro”. Se eu rezo hoje, mesmo que o dia inteiro, não serei um grande místico amanhã. Se eu quero ser forte, não o conseguirei em um mês de academia. Se eu quero ser culto, sábio, santo, etc. Em todas essas situações concretas há situações de queda, que são os caminhos que existem para nos fazer desistir. Uma redonda barriga ajuda a enxergar isso com mais clareza. E consoante Nelson, a mulher barbada: “Até agora têm-se limitado a contemplar a barriga. Cabe agora transformá-la”.

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Às vezes, ao escrever aqui sobre coisas importantes, sinto-me um pouco hipócrita. A palavra, raro caso, é uma cujo sentido está inalterado até hoje. Vem de dois radicais gregos: ὑπό (hypo), inferior e κριτής (krites ou crites: juiz, raiz da qual sai também critério), ou seja, juiz inferior, aquele que julga de baixo: é exatamente esse o sentido atual: alguém que julga uma pessoa estando abaixo dela.

Muitas vezes, quando julgo uma situação, hipotética ou real, estou julgando de baixo. Contudo, há um certo dever em discernir o certo do errado, e chamá-los pelo nome. Ao cumprir esse dever, principalmente publicamente, corro o risco de ser um hipócrita, e muitas vezes sou. “Com o rigor que julgueis sereis julgado”, dizem Os Livros. Assumo o risco, até porque sou gordo, feio, burro, fraco e pecador!

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Fiz ontem um bolo mesclado e acertei a mão. Ficou muito bom! Isso não é relevante, mas se você prestar atenção, fará algum sentido.

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Estou a escrever uma série de artigos em torno de um tema, πανκαταπυγία. Já deveria ter saído a primeira parte (só publiquei o prólogo) mas estou em dúvida de como organizá-lo. Mas acredito que terminarei ainda em outubro. Por enquanto, no espírito do prólogo, constato: é incrível o que a prática da comunhão diária pode fazer com nossa vida.

Sobre a coleção de artigos, vai uma dica para tentar saber-lhes, de antemão, o tema: πανκαταπυγία, latinizado, torna-se pankatapygia. Pan não é segredo para ninguém. Kata é o movimento de cima para baixo e, de resto, procure no dicionário por “calipígia”.

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Luciano Huck teve seu relógio roubado. Reclamou na Folha de S. Paulo. E passou a sofrer patrulhamento ideológico. Repare: todo mundo está sujeito a roubos, mas todos devem ter o direito de serem protegidos. Poucos têm, como Huck, um Rolex (um relógio de terceira linha, diga-se de passagem), e menos ainda têm o poder de publicar algo na Folha de São Paulo para reclamar. Isso explica muito da gritaria e do chilique que vimos contra o coitado por aí. Inveja, já dizia um adesivo visto em muitos fusquinhas, …

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Julio Lemos, meu blogueiro favorito, está fenomenal. Além do sutil humor britânico de seu último artigo, e do Português português, ele trata da «moralidade convencional» com uma autoridade rara. Mas, além disso há mais: outro artigo, sobre o estudo superficial, foi um tremendo tapa na minha cara. E na de muitos. ακεδια κακη.

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Os outros três ficam para depois.

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A principal razão do sucesso da “nova era” é o declínio da espiritualidade católica. Quem não a conhece, não sabe o que perde. Eu já conheci um pouco de diversas escolas espirituais: budistas, hinduístas (hare kr.s.na), gnósticos, caçadores de E.T., espíritas, “astrólogos”, nova era vale-tudo, alimentandos de luz, etc. Nada disso tem sequer uma fração do tesouro espiritual que eu encontro na Igreja Católica. Eu só conheci melhor a minha alma e aprendi a resolver meus problemas através da Tradição filosófica, teológica e espiritual Católica, principalmente os ensinamentos de Evágrio Pôntico, São Bento, São Gregório Magno e Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. E isso que eu nem me aprofundei neles, e nem citei cá os grandes místicos (sequer os estudei): Santa Tereza D’Ávila e São João da Cruz.

 

Eu mesmo não conhecia esse tesouro até pouco tempo. E já me meti em um diletantismo (ou vagabundagem) espiritual, que se me trouxe algum benefício, foi o conhecimento do tamanho erro que isso foi. Não exatamente um erro, mas uma perda de tempo fantástica. O tempo é inexorável, temos um tempo limitado, e nossa morte é o “ultimate deadline”, como gosta de chamar Viktor Frankl. Perder tanto tempo assim é, no fundo, um desrespeito à vida, uma violação ao sexto mandamento: é destruir parte de uma vida.

 

O principal atrativo na literatura de auto-ajuda e na “nova era” (e, em parte, nas seitas neopentecostais caça-níqueis) é a resolução dos problemas: “cure sua vida”, “pague suas dívidas”, “pare de sofrer”, “melhore o seu casamento”, etc. As vendas não param de crescer, o que só mostra que ninguém está conseguindo resolver, de fato, os seus problemas.

 

Outra coisa que anima as vendas da “nova era” é a promessa de poderes. Ora, existe poder maior que aquele que Jesus deu a seus discípulos: “Tudo o que pedires a Deus em meu nome, vos será dado”? Para mim, isso é muito mais importante (e útil) que soltar “hadouken”.

 

 

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