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Archive for junho \15\-03:00 2009

Uma das coisas que o Olavo de Carvalho mais ressalta a seus alunos é a questão da honestidade intelectual. Honestidade intelectual é dizer que sabe o que se sabe, e que não sabe o que não se sabe. Mas a coisa é mais profunda.

Quanto sabemos de algo? Temos certeza? Achamos provável? Verossímil? É meramente possível? O Olavo separa os graus de certeza nesses quatro, e isso é essencial para se conhecer qualquer coisa. Quantas vezes dizemos que “temos certeza” quando não temos? “Tenho certeza que isso não vai acontecer” e, batata! Acontece. Ou então “estudei esta fonte e nela aprendi que isso é assim, como estudei, tenho certeza!”. E assim vai.

O primeiro passo e saber categorizar tudo que sabemos e que não sabemos, como diz o Olavo, fazer o “inventário” dos nossos conhecimentos. Vamos descobrir que temos certeza absoluta de pouquíssimas coisas. Que reputamos várias como prováveis, inúmeras como verossímeis e uma infinidade como possíveis.

Em cima disso, ele desenvolve a teoria dos quatro discursos. Não vou entrar em detalhes, mas falar apenas de alguns detalhes. A cada grau de certeza corresponde um dos discursos aristotélicos: analítica, dialética, retórica e poética. Quando lemos algo em nossos estudos, e aquilo tem coerência interna (retórica), geralmente ele entra no nosso rol de conhecimentos como verossímil. À medida que recebemos dados de várias fontes, dados contraditórios, que nos colocam em dúvida, nossa mente faz o confronto dialético entre eles e vai surgindo uma certeza maior, a da probabilidade. E a maior parte dos nossos conhecimentos nunca passará daí. Teremos certeza de pouquíssimas coisas nessa vida. Mas um grau altíssimo de probabilidade é quase uma certeza.

Nesse ponto, devemos seguir o conselho de Sócrates (ou seria de Platão?): “verdade conhecida é verdade obedecida”. Do contrário, seremos hipócritas. Devemos viver segundo o que “acreditamos” (não num sentido de crendice, mas segundo nossa reta razão julgou provável), para que saibamos julgar se aquilo é, de fato, verdadeiro ou falso. É o julgamento da realidade sobre as crenças. Não é mais a nossa mente que separa o verdadeiro do falso, mas a realidade faz isso por nós.

Se dizemos que um conhecimento provável é uma certeza, meteremos os pés pelas mãos (principalmente se ele for falso). Viveremos de maneira errada e não prestaremos atenção ao que a realidade nos diz sobre aquilo. Do contrário, se dizemos que um conhecimento provável é verossímil (por exemplo), não o submeteremos ao teste da realidade, e não chegaremos a certeza alguma. Por isso é preciso, diariamente, com retidão e sem escrúpulos julgar cada coisa que acreditamos, e saber com que grau de certeza. Esse é o princípio de todo conhecimento racional.

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Tigris Pantheræ Oculus

Falava, há duas semanas, da alegria na estafa. E o tema é tão interessante que vou continuar nele.

Rocky (vamos ficar só no primeiro, mas vale pra todos) não teria graça nenhuma se o sr. Balboa começasse espancando e terminasse espancando. A grande diferença de Rocky para os outros filmes de luta até então, é que ele não apanha “para não perder a graça”. Ele apanha porque é fraco, e perde a luta final. Mas vence, porque seu objetivo era simplesmente aguentar os 15 rounds.

Mas, o que interessa, é que ele luta com ardor, mesmo vislumbrando a derrota. E isso que o motiva. Quando em situações ruins, desanimadoras, tiramos vontade do nada para fazer o que temos que fazer, ficamos alegres. Essa alegria de agir na aridez é uma daquelas coisas que “não tem preço”.

Lutar, quando tudo nos tira a vontade, é uma das coisas mais difíceis. A primeira luta a ser vencida é conseguir lutar. Mas essa primeira já tem a sua recompensa. A alegria de começar a lutar quando tudo vai contra nos motiva para continuar lutando. Podemos perder, como Rocky perdeu, mas sairemos vencedores. Viver é lutar, e a vitória está precisamente na perseverança nessa luta, independentemente do resultado final. Buscaremos a vitória até o último instante, e nisso está o nosso cinturão.

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Aquele professor, sentado, assistindo à minha palestra, fez-me a pergunta mais difícil. Ele morreu há exatos um mês e um dia. Naquele fim-de-semana em que ele morreu, e em que eu voltei a viver, descobri a resposta. E ele também, na Glória da onisciência divina.

Francesco Langone foi um professor exemplar, um sorriso sempre cativante, exemplo de reta conduta, trabalho duro, ordem, amor pelos alunos e pela ciência. No dia em que ele faleceu, ofereci-lhe várias pequenas obras. Ele retribuiu-me com o mês mais consciente de minha vida. Se eu não acreditasse no post mortem, e na comunhão dos santos, ainda assim poderia dizer que ele pode inspirar a humanidade com seu exemplo, com tudo o que viveu. Mas ele pode muito mais que isso hoje. Pode interceder por todos aqueles que, como ele, querem salgar o mundo com trabalho e alegria.

Requiescat in pace, Francisce!

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Um comentário breve: é assaz importante que estejamos atentos ao que a realidade nos diz. Na vida acontecem pequenos eventos, muitas vezes marginais, mas que podem servir de régua da nossa moral. Que servirão para sabermos se estamos no caminho certo, como placas que encontramos numa estrada que, mesmo sem dizer exatamente onde estamos, servem a confirmar o nosso caminho. Essa docilidade aos acontecimentos, às vezes até ruins, é condição indispensável para uma vida virtuosa.

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