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Posts Tagged ‘Mídia sem Máscara’

Notícia

Meu artigo “O debate medular: (…)” foi publcado no Mídia sem Máscara, com pequenas alterações. Dê uma olhada! Aproveite e leia também o excelente artigo de Percival Puggina sobre a polêmica Felipe Aquino X D. Pedro Casaldáliga.

Obrigado pela leitura! Até mais!

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Das razões deste escrito

Estive hoje, data da escrita deste documento, no Conselho de Representantes de Unidades (CRU), espécie de “senado” do movimento estudantil da Unicamp, sobrepujado em autoridade somente pela assembléia geral e pelos congressos anuais, e que congrega representantes eleitos de forma direta e representantes escolhidos pelos Centros Acadêmicos.

A pauta consistia da discussão a respeito dos “decretos do Serra” (São conhecidos dessa forma os decretos de 51.460 de 01/01/2007, 51.461 de 01/01/2007, 51.471, de 02/01/2007 e 51.636, de 09/03/2007 e 51.660, de 14/03/2007), cuja síntese (enviesada) pode ser lida em http://www.adunicamp.org.br/S%EDntese%20Decretos%20Serra.pdf . É consenso no movimento estudantil que esses decretos precarizam a Universidade Pública, tiram-lhe a autonomia, e fazem parte de um projeto privatista das Universidades (obviamente tramado pela burguesia).

Ao comparecer ao CRU — com dois amigos de quem discordo politicamente, mas dou testemunho de sua inteligência e honestidade — o que ouvi foi uma repetição, com palavras distintas, desses pontos. Às vezes uma pessoa que não estava sob os efeitos da Cannabis falava com uma dicção um pouco melhor, mas o conteúdo não mudava. Fiz uma fala, de alguns segundos, que reproduzo da melhor forma que lembro: “O debate aqui não passou da medula. Ninguém pensou nos pontos e só repete discursos prontos. As falas chegam à medula, e vem a reação imediata. Ninguém pensou no que é Universidade, no que a sociedade tem a ver com a Universidade, qual é o sentido do Estado, o que o Estado tem a ver com a Universidade. Ninguém pensou a respeito da dicotomia colocada por Bourdieu de sociedade e mercado. Retiro-me”. Alguns, ironicamente, pediram para eu fazer uma fala maior para “iluminá-los”. Disse que escreveria um texto. Embora ache que ninguém acreditou nisso, cá está o texto. Vou explicar a minha fala e tratar de alguns outras coisas que vejo no movimento estudantil e que me incomodam, com o intuito de ajudá-los a trilhar o caminho da honestidade intelectual.

Antes de tudo, um pequeno comentário

Um pouco antes do reboliço citado, chamei meus dois amigos a saírem da sala do DCE para fazermos um “debate qualificado” lá fora. Para quem não sabe, “debate qualificado” é como os comunistas se referem a qualquer debate em que eles consigam moldar a linguagem e ser a opinião hegemônica, já que assim ele está livre das amarras da “alienação”. Poderia fazer uma seção inteira com o glossário de termos comuno-socialistas, tais como “bandeiras históricas”, “unidade do movimento”, “educação superadora”, e os já citados “alienação” e “debate qualificado”. Só o último é necessário, e mesmo assim nem é tanto. Retomo a seguir.

No nosso debate qualificado, entre outras coisas, citei que achava um absurdo a burrice deles de não fazer “debates” com as duas (ou mais) opiniões a respeito do assunto, e sim uma voz única, já que mesmo que o intuito deles fosse doutrinar, eles só poderiam fortalecer as opiniões a seu favor expondo a opinião contrária. Nesse momento chegou um dos diretores do DCE, por quem tenho um especial apreço, e falei: “Meu comunista favorito, você não acha que só dá para formar uma opinião se forem expostos os dois lados?”, no que ele concordou inteiramente, e ainda reiterou citando o Princípio de Identidade. Em seguida perguntei: “Por que, então, não se fez nenhum debate com alguém favorável aos ‘decretos do Serra’?”, no que não obtive resposta.

Entre as hipóteses citadas pelos meus amigos para esse comportamento aparentemente desprovido de inteligência, lembro-me das seguintes: “vai que alguém muda de idéia” e “quantos desses estão realmente interessados em formar uma opinião sólida? Dos 35 que lá estão, acho que 33 não estão”.

Dos pontos que elenquei

Discursos prontos

Não é surpresa para ninguém (e é muito triste que não seja) que os debates estudantis (e muitas vezes os docentes) acerca de questões políticas só repetem alguns discursos prontos. Esses discursos são encontrados nas “reuniões de formação” dos partidos ou grupos políticos e em artigos de jornal de pensadores sociais tidos em boa conta pelos militantes estudantis.

Qualquer coisa que fuja disso, choca-os. Eles conhecem os seus discursos, os discursos do grupo político oponente, e brigam quem consegue mais falas, para fazer valer o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Se alguém chega com algo diferente, inesperado, é clara a sua impotência ante a situação.

Já vi, por exemplo, propostas de algum raro estudante que usa o cérebro que contemplavam os dois lados da contenda. E o que acontecia? A proposta era negada por ambos os grupos, porque eles não sabiam como agir. Não estavam preparados para pensar, desligavam o cérebro e reagiam com a medula. É irônico o suficiente que eles só concordassem em discordar do que ambos concordavam.

Também era notório o embasbacamento temporário a que eu os submetia falando qualquer coisa que fugisse do molde do debate. Eles demoravam algum tempo para dar partida no cérebro, e o cérebro respondia para que eles usassem o trator e discordassem logo, porque ele não queria trabalhar. Afinal, cérebro de comunista não foi feito para ser explorado. Ai de quem tentar extorquir-lhe a mais valia!

O que é Universidade?

Eu não sei o que é Universidade além da minha vivência nesses últimos 6 anos. Também não sei a que ela serve nem a que ela deveria servir, exceto umas apostas que fiz, junto com alguns amigos, em duas teses a Congressos de Estudantes da Unicamp (essas teses estão publicadas no meu blog: Uma noite e meia e Angiosperma Dicotiledônea Cariófila — Abaixo a Média 7).

Já pensei no assunto, contudo, e tenho algumas opiniões temporárias, que eu não valorizo mais do que isso: opiniões. Tendo em conta o que é Universidade, a que ela serve e a que ela deveria servir, eu me posiciono a respeito dos pontos e penso a respeito de projetos possíveis para a Universidade.

Só duas coisas eu tenho certeza a respeito da Universidade, e são as únicas que aqui exporei. Minhas opiniões não interessam. Essas duas coisas são: ela deve servir à ampliação do conhecimento e buscar a verdade. Ampliação do conhecimento de quem? Não sei. Que tipo de conhecimento? Não sei. Verdade a respeito de que temas? Não sei. Tenho cá minhas opiniões, mas repito: não cabe expô-las aqui.

No movimento estudantil, todo mundo (Quando digo “todo mundo”, refiro-me a uma generalização razoável para que, em uma pesquisa estatística, a proporção da amostra que tenha aquela característica seja de 100%. Se você não se encaixa, não se sinta ofendido, mas antes encorajado a lutar para aumentar a proporção da sua característica e não ser desconsiderado), todo mundo diz que a Universidade deve servir à classe trabalhadora, e produzir um conhecimento social que contribua para a “transformação da sociedade” (mais um termo do duplipensar comunista, que significa simplesmente a implantação do socialismo (na verdade ele significa muito mais e mereceria um capítulo à parte. Fica para outra iniciativa.) ). Se eu pedir para alguém explicar o que isso significa, talvez eles não consigam cumprir.

Sociedade e Universidade

Nisso tudo, como a sociedade se relaciona com a Universidade? O que é autonomia para a Universidade, é seguir o caminho do conhecimento? É obedecer os anseios da sociedade? E esses anseios, são refletidos no governo? Onde a autonomia se encaixa nisso tudo? Eu, que evito usar a medula (tenho reações lentas, de fato), não consigo responder nada disso. Sem isso, não dá para discutir autonomia, rumos, e quais são os direitos que o governo têm sobre a Universidade.

Estado?

A conceituação de Estado também se faz necessária. É totalmente diferente um Estado mínimo liberal, um Estado “pequeno” conservador, um Estado de bem-estar social, um Estado grande (por exemplo, populista) e uma ditadura do proletariado nos moldes leninistas. Ao escolhermos o comportamento que desejamos do Estado é que podemos começar a falar de ingerência do governo na Universidade. Em quais dessas formas de Estado a autonomia pode ser defendida? Talvez em quase todos, mas com certeza não na “ditadura do proletariado”, já que o proletariado tem que patrulhar a Universidade (um aparelho ideológico, para Althusser) para evitar o renascimento dos ideais “burgueses”. Então, o que aquele bando de leninistas está falando de autonomia?

Sociedade e Mercado

O sociólogo Pierre Bourdieu dizia que, na sociedade capitalista, o conceito de sociedade se confunde com o conceito de mercado. Isso foi usado (de maneira correta) por um professor contra a “Universidade Nova”. Mas essa análise é mais ou menos “neutra”, no sentido que ela pode ser usada para tanto detratar o capitalismo, como para defendê-lo. E, se ele estiver correto, na sociedade capitalista a Universidade que corresponde aos anseios da sociedade é aquela que corresponde aos anseios do mercado. Não se pode defender a efetivação dos anseios da sociedade na Universidade ao mesmo tempo que se critica o seu caráter “mercadológico”. Isso é muito importante. É uma questão de honestidade, já que os “anseios sociais” que o militante defende nada mais são que os anseios dele.

Para se defender uma Universidade que não siga o mercado, é necessário que: ou se negue (intelectualmente, por favor, não com uma birra!) a tese de Bourdieu, ou não se coloquem os “anseios da sociedade” como guia para a Universidade, e sim um projeto de iluminados ou outra coisa que o valha, por exemplo, a tese conservadora: “a Universidade deve ser autônoma para suas pesquisas, e dane-se o resto”. Não deixa de ser irônico ver socialistas defendendo uma causa conservadora. O que eles não podem é defender isso e os anseios sociais ao mesmo tempo.

Da ignorância e da desonestidade

Há, basicamente, dois tipos de militantes estudantis: os ignorantes e os desonestos. Explico, com um passeio pelo pouco que conheço do marxismo, e de sua evolução intelectual.

Karl Marx postulou de uma maneira quase determinística o fim do capitalismo e o advento do socialismo, preparação para o comunismo. O desenvolvimento capitalista levaria à saturação do sistema e sua queda. O crepúsculo seria acompanhado da revolução socialista, que derrubaria o governo capitalista e imputaria a ditadura do proletariado.

Aos países que não tivessem atingido um desenvolvimento capitalista suficiente, caberiam duas opções para que alcançasse o estágio necessário para a revolução: serem destruídos ou atingir, sozinhos, esse desenvolvimento num prazo maior.

Marx também advertiu que o capitalismo tinha suas defesas, entre elas o “aparelho de Estado”, que mais tarde viria a ser chamado de “aparelho repressivo de Estado”, em contraposição à definição, de Althusser, dos “aparelhos ideológicos de Estado”. O “aparelho de Estado” consistia na polícia a serviço do governo burguês. Com Althusser, as sedes de formação social entraram na turma dos aparelhos, mas como aparelhos ideológicos: a escola, a Igreja, a família que, para ele, incutiam a ideologia burguesa na cabeça dos alienados coitadinhos.

Lênin, ao colocar na prática as idéias marxistas, descobriu duas coisas: a revolução poderia ser feita antes do desenvolvimento capitalista, que seria feito pela própria ditadura do proletariado; o “esquerdismo” não era benéfico ao projeto socialista, porque desviava o foco da revolução, através de demandas imediatistas ao Estado burguês. O próprio Lênin combateu o esquerdismo enquanto promovia o desenvolvimento capitalista na Rússia soviética, até ser sucedido por Stálin.(José Genoíno disse, em entrevista à Folha de São Paulo no dia 07/02/2005, que o governo Lula seguia a linha leninista de prover o desenvolvimento capitalista para criar as condições para a instauração do socialismo)

Contudo, os estudos posteriores de diversos autores do “Marxismo Ocidental”, principalmente Gramsci, Lukács e Horkheimer mostraram que o esquerdismo poderia ser útil ao movimento revolucionário, já que as suas demandas e manifestações serviam para degradar o Estado burguês ou as bases em que estava assentado. Dessa forma, os comunistas deveriam apoiar as causas esquerdistas e todas as causas “anti-ocidentais”, ou ainda “anti-logocêntricas”, pois isso serviria a transformar a opinião pública. Usando o Althusser, a idéia deles era tomar os aparelhos ideológicos de Estado para si, e usá-los no molde da mentalidade da população.

Isso é o básico do básico do marxismo. Eu li três capítulos d'”O Capital”, um do “Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado” (de Althusser), algumas palavras espalhadas de Lênin, e apuds de Gramsci e da Escola de Frankfurt e isso é tudo que eu sei.

Existem três “gradações” de militantes marxistas: os primeiros sabem só o marxismo de Marx. Não avançaram até Lênin. Sabem teoria mas não sabem estratégia. Em seguida, há os que estudaram Lênin e conhecem estratégia marxista. Os que estão no DCE (ou pelo menos os seus capos) estão, majoritariamente, neste grupo. O terceiro grupo, aqueles que conhecem ou Gramsci ou a Escola de Frankfurt são uma minoria, principalmente alunos do IFCH e da Economia que se metem muito pouco com o movimento estudantil e, claro, os grandes ideólogos dos partidos de esquerda que formam sua baixa militância (seus idiotas úteis) nas Universidades.

Quando vejo os debates no movimento estudantil, vejo esquerdismos perdidos. Se os “esquerdistas” estão no primeiro grupo, eles são ignorantes, já que não sabem que o “esquerdismo é a doença infantil do comunismo”. Se estão no terceiro, são estrategistas que usam o esquerdismo para degradar o Estado burguês e, portanto, insinceros, já que dão a impressão de acreditarem naquelas causas. Eu ainda não consigo enxergar uma causa para militantes do segunda gradação defenderem causas esquerdistas, mas que o fazem, isso vejo com os meus olhos. Talvez recebam ordens de seus partidos, a única hipótese que fá-los parecerem com um mínimo de inteligência: não pensam, mas respeitam as ordens de quem pensa.

Pelo fim da maldade no mundo! Pela democratização do amor e da amizade

O título desta seção conclusiva é formado por duas propostas submetidas a Congressos de Estudantes da Unicamp, o que mostra o nível a que os debates caíram. A título de nota, a primeira foi rejeitada, a segunda foi aprovada com algumas alterações. As duas são bizarrices tremendas, a primeira é o desejo gnóstico-revolucionário, a segunda quer dar direitos constitucionais a respeito do amor a todos. Já pensou?

Da atuação dos partidos no movimento estudantil

Eu não preciso falar da torpeza que é a atuação dos partidos no movimento estudantil. Eles formam seus quadros, pagam cursinho, e falam em qual Universidade eles devem entrar. Por exemplo, neste ano três membros do PSOL entraram em Ciências Sociais, vindos de outros cursos da Unicamp. Uma garota, do mesmo partido, entrou em Letras, vinda de outra Universidade. Essa prática também é bastante difundida no PCdoB, e não duvido que aconteça o mesmo no PT, no PSB, no PDT e no PSDB.

Nada é tão maléfico ao movimento estudantil como isso. Se você pega um movimento com pessoas inexperientes, que discutem o que não sabem, mas que são honestas, é possível construir uma militância ética. Quando o compromisso das pessoas não é com os estudantes, mas sim com um partido ou com uma ideologia, não há nada que os estudantes possam fazer se não lamentar, ou, se tiverem força, juntar-se e peitar esses aproveitadores.

Também não preciso falar outra coisa: o que esperar da atuação desses partidos no governo da população, se na briga por um espaço bem menor, os “fóruns do movimento estudantil”, a coisa é tão vil? Que moral têm esses militantes para falar de ética?

Oração

O ensino superior espera ser populado por pessoas inteligentes, por pessoas aptas a ingressar em estudos superiores, o nome mesmo diz. Se não é isso que os militantes querem, a gente discute depois.

A Unicamp é conhecida nacionalmente, quiçá mundialmente por seus méritos na pesquisa acadêmica. Suas vagas são disputadas por alunos de todo o país, que buscam o brilhantismo em seus pares, para terem garantia de um nível de estudo adequado à sua prévia preparação.

Quando você pensa em um movimento político em uma Universidade de tal porte, você esperaria encontrar pessoas inteligentes, estudando a fundo os problemas que debatem, conhecendo o problema em toda sua amplitude, conversando com especialistas das mais diversas orientações e posicionamentos sobre o assunto.

E quando a situação que você encontra é, não apenas diversa, mas oposta a essa, com militantes repetindo discursos de partidos de meia tigela, submetendo-se a Zés Manés em vez de tomarem as rédeas do debate — fazendo jus à formação que deveriam ter –, com estudantes dos últimos anos de humanas não sabendo o básico do marxismo, ou fingindo que não sabem, a desolação não tem tamanho.

O que falei nesta tarde não foi com raiva, não foi para expressar superioridade. Foi algo sincero e repleto de tristeza. Não quero nem imaginar o que acontece nas outras Universidades, pretensamente piores do que a Unicamp. A Verdade liberta, mas nem sempre é agradável.

Tudo que podia fazer quanto a isso foi feito. Escrevi estas linhas. Não quero mudar o posicionamento político de ninguém, só quero honestidade e estudo. Mas sei que só um milagre pode mudar tão deteriorada situação. Rezemos.

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Paz, Justiça e Liberdade.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Heitor de Paola e ao advogado do Mídia sem Máscara que atenciosamente me avisaram de que este artigo poderia trazer-me problemas legais. Retirei um trecho e creio estar salvo de processos.

Fui convidado para escrever o primeiro editorial do Blogs Coligados. Na época, era o auge do PCC e o assunto não podia ser outro que não o crime organizado. Fui demovido a publicá-lo por muitos, com as mais esfarrapadas desculpas e algumas preocupações sérias. No final, desisti por medo. Acabo por publicá-lo agora. Tentei desmitificar alguns pontos, e contradizer certos preconceitos veiculados pela mídia.

 

Os mitos são: o crime organizado é, tal qual o roubo de galinhas, causado pela desigualdade social; os celulares foram o ponto chave desta rebelião; o PCC é uma organização simplesmente criminosa, que luta simplesmente por poder. Também vou comentar outros pontos, mais controversos, com o que eu penso sobre o assunto. Antes de mais nada, contudo, gostaria de pedir a todos que lêem isto que observem a realidade, vejam os nexos das ações, e tentem tirar conclusões a partir disso. Em seguida, que testem suas conclusões, tentando quebrá-las, sendo como se fosse o inimigo retórico de si mesmo. Eu fiz-me passar por esse processo antes de escrever o presente artigo.

 

Começo adicionando alguns elementos. O primeiro são seis artigos selecionados retirados do estatuto do PCC (coloquem os sics à vontade; são muitos e tive preguiça):

 

“1. Lealdade, respeito, e solidariedade acima de tudo ao Partido

2. A Luta pela liberdade, justiça e paz

5. O respeito e a solidariedade a todos os membros do Partido, para que não haja conflitos internos, porque aquele que causar conflito interno dentro do Partido, tentando dividir a irmandade será excluído e repudiado do Partido.

7. Aquele que estiver em Liberdade “bem estruturado” mas esquecer de contribuir com os irmãos que estão na cadeia, serão condenados à morte sem perdão

15. Partindo do Comando Central da Capital do QG do Estado, as diretrizes de ações organizadas simultâneas em todos os estabelecimentos penais do Estado, numa guerra sem trégua, sem fronteira, até a vitória final.

16. O importante de tudo é que ninguém nos deterá nesta luta porque a semente do Comando se espalhou por todos os Sistemas Penitenciários do estado e conseguimos nos estruturar também do lado de fora, com muitos sacrifícios e muitas perdas irreparáveis, mas nos consolidamos à nível estadual e à médio e longo prazo nos consolidaremos à nível nacional. Em coligação com o Comando Vermelho – CV e PCC iremos revolucionar o país dentro das prisões e nosso braço armado será o Terror “dos Poderosos” opressores e tiranos que usam o Anexo de Taubaté e o Bangú I do Rio de Janeiro como instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros. “

 

Qual a conclusão que se tira desses artigos? A primeira coisa que me veio à cabeça foi a semelhança desse estatuto com o código penal cubano (que você pode ver em http://www.cubanet.org/ref/dis/codigo_penal.htm). A segunda foi que os itens 15 e 16 deixam claro, óbvio e explícito o objetivo dessa entidade: a luta de classes. Isso se torna mais patente com a recente divulgação pela revista Veja de que um líder do PCC manteve contato para auxílio logístico por parte do MST, outra entidade cujo objetivo está na luta de classes.

 

Um detalhe: tal qual Stálin, Hitler, Mao e Pol Pot, o PCC também diz defender a paz, a justiça e a liberdade. Nesses últimos dias, tiraram-nos a paz, zombaram da justiça e cercearam nossa liberdade com seus atentados. Ao que parece, querem a paz para tomar sol e trepar (nome carinhoso para “visitas íntimas”), a justiça abrindo-lhes as pernas tais quais as prostitutas das visitas, e a liberdade para comandar ataques quando quiserem.

 

O segundo elemento é que Marcola, líder do PCC, já leu três mil livros, entre os quais grandes obras do pensamento socialista (Marx, Lênin, etc.), da literatura (Dante) e da estratégia (Sun Tzu). Isso, além de reforçar a tese do PCC como instrumento de luta de classes, tem outra decorrência: se Marcola, criminoso convicto, tem tanta cultura, como podemos dizer que a criminalidade organizada se deve à falta de educação? Eu, que dedico minha vida aos estudos, não tenho em conta tantos livros lidos quanto esse homem.

 

Agora eu faço um convite à investigação: como Marcola tomou contato com tudo isso? Afinal, para um estudo tão direcionado, é necessário que ele tenha sido tutorado por alguém. Alguém precisou dizê-lo o que ele precisava ler. E não é só Marcola, livros desse tipo já foram apreendidos diversas vezes em posse de líderes do PCC e do Comando Vermelho carioca, aliado do PCC. Muitos desses livros encontrados eram edições raras, muitas vezes de circulação interna de partidos e organizações de esquerda brasileiros como o PC (o Partidão). Bom, esse elemento novo que eu usei para completar o parágrafo dá uma pista: como um livro de circulação interna de um Partido iria parar na mão da organização criminosa? Três possibilidades:

1) Um membro do partido o entregou a um membro da organização criminosa;

2) A organização criminosa é um braço armado — pretensa e fingidamente sem objetivos políticos — do partido;

3) Em uma ação, a organização criminosa roubou os livros do partido.

 

A possibilidade 3 é um pouco estranha, já que livros teriam muito pouco valor comparados a drogas, dinheiro e outros bens que poderiam ser encontrados no esconderijo de um partido comunista ilegal. Além disso, eu disse esconderijo. Não era fácil para o Estado encontrar tais esconderijos, seria muita sorte roubar várias vezes justamente sedes de partidos comunistas. E, como disse-me um funcionário do Google, probabilidade é uma ciência, confiar em um método que dependa de uma probabilidade alta não é o mesmo que confiar na sorte. Logo, afirmo que a possibilidade 3 não pode ser chamada assim. É uma especulação impossível, no máximo.

 

Assim sendo, tanto a possibilidade 1 ou a possibilidade 2 levam a conclusão de que foram os partidos e organizações de esquerda que propiciaram o aparelho estratégico do crime organizado.

 

Mais um ponto que liga o crime organizado à esquerda nacional: Lula, Frei Betto, um diretor do DCE da Unicamp, e outras pessoas de esquerda consideraram o ato uma insurreição causada, em última instância, pela desigualdade social. Como o grande mote da esquerda é eliminar a desigualdade social, eu especulo que tudo isso é benéfico a ela. O crime organizado, dessa forma, privilegia a esquerda. Eu já afirmei-o diversas vezes em meus artigos, mas faço-o novamente: esse determinismo é injusto com a grande parcela pobre da nossa população. A fundo, isso é chamar todo pobre de criminoso em potencial. Voltando um pouco, ouvi de um vereador de Santos pelo PT, à época professor de história, a seguinte estória sobre uma eleição a prefeito de São Paulo: FHC, Suplicy e Jânio Quadros eram os candidatos. Jânio passou a campanha inteira dizendo que comunistas eram ateus e imorais. FHC era o líder disparado nas pesquisas quando, no último debate, Boris Casoy perguntou-lhe se acreditava em Deus. Ao se constranger a responder, imediatamente a população ligou o ateísmo comunista a FHC, em um non sequitur generalizado, e Jânio ganhou a eleição. Conto essa porque, há vinte anos, a esquerda brasileira diz que o problema da criminalidade é a desigualdade social. De repente, surge um evento da magnitude que houve, as sinapses subconscientes são acordadas, e a população tem um estalo, achando que chegou àquela brilhante conclusão sozinha.

 

Contudo, a solução que o nosso sapientíssimo Estado encontra é bloquear celulares. Li, recentemente, o livro “A Nova Era e a Revolução Cultural”, de 1996, que já comentava os inúmeros ataques coordenados e simultâneos do Comando Vermelho. Naquela época, celulares eram raros. Não havia sido criada a “banda B”, e o celular passava pela mesma burocracia estatal que o telefone fixo para ser recebido, tornando quase impossível para um presidiário conseguir um. Em todo o mundo havia 137 milhões de celulares e, nesse mesmo ano, foram realizadas apenas 780 mil ligações de celular no estado de São Paulo. Sem contar que não existia o negócio pré-pago, e o custo era muito superior. Cortar celulares voltará as organizações criminosas ao estado tecnológico que tinham há 10 anos, mas não impedirá ações organizadas.

 

A única solução que eu vejo é a seguinte: decretar o PCC, CV, organizações correlatas e todas aquelas que lhes dão apoio (incluindo, por exemplo, o MST) organizações terroristas. Criar prisões de segurança máxima tais Guantánamo para abrigar seus líderes. Garantir-lhes somente os direitos fundamentais do cidadão, a saber: vida, integridade física, expressão, saúde e alimentação; alienando-lhes todos os outros. Terrorista geralmente é combatido com as Forças Armadas, e assim deve ser feito. Toda apologia de qualquer uma dessas organizações deve ser considerada “apologia do crime” e, portanto, um crime por si só qualificado.

 

Tudo isso pode resolver o problema, mas ainda há um risco nisso. Foi-me ensinado no catolicismo que a linha entre virtude e pecado é muito tênue. Por exemplo, a humildade é uma virtude enquanto a modéstia é uma falha. Ao considerar crime a apologia dessas organizações, temos que tomar cuidado para não sairmos considerando crime qualquer opinião um pouco mais polêmica. Ao tratarmos o terrorismo com firmeza, temos que tomar cuidado para não romper o sigilo e a vida privada dos cidadãos, nem dar tratamento marcial a homens inocentes. Ao exigirmos rigor contra o crime organizado, não podemos deixar subir ao poder um fascista. Ao alienar direitos de terroristas, não devemos tirá-los de nós mesmos. Urge, contudo, atacar frontalmente o crime organizado.

 

Eliminar essas organizações do convívio social e desmembrá-las. Só isso poderá nos dar as verdadeiras paz, justiça e liberdade.

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