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Archive for the ‘Catolicismo’ Category

Aquele professor, sentado, assistindo à minha palestra, fez-me a pergunta mais difícil. Ele morreu há exatos um mês e um dia. Naquele fim-de-semana em que ele morreu, e em que eu voltei a viver, descobri a resposta. E ele também, na Glória da onisciência divina.

Francesco Langone foi um professor exemplar, um sorriso sempre cativante, exemplo de reta conduta, trabalho duro, ordem, amor pelos alunos e pela ciência. No dia em que ele faleceu, ofereci-lhe várias pequenas obras. Ele retribuiu-me com o mês mais consciente de minha vida. Se eu não acreditasse no post mortem, e na comunhão dos santos, ainda assim poderia dizer que ele pode inspirar a humanidade com seu exemplo, com tudo o que viveu. Mas ele pode muito mais que isso hoje. Pode interceder por todos aqueles que, como ele, querem salgar o mundo com trabalho e alegria.

Requiescat in pace, Francisce!

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Um comentário breve: é assaz importante que estejamos atentos ao que a realidade nos diz. Na vida acontecem pequenos eventos, muitas vezes marginais, mas que podem servir de régua da nossa moral. Que servirão para sabermos se estamos no caminho certo, como placas que encontramos numa estrada que, mesmo sem dizer exatamente onde estamos, servem a confirmar o nosso caminho. Essa docilidade aos acontecimentos, às vezes até ruins, é condição indispensável para uma vida virtuosa.

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Correndo, não aguento mais, não vou conseguir terminar o trecho. Bota Pantera pra tocar. Empurra que vai. Chega. Consegui.

Se não fossem esses momentos, nenhum jogging valeria a pena. O exercício só vale a pena na estafa. Só vale a pena quando você não consegue — ou acha que não consegue — passar de certo limite e se mostra enganado, quebrando-o. A vitória nos alegra, e nos motiva para a próxima vez. Mas é a possibilidade da derrota que nos motivou desta.

Mas não é a endorfina o segredo de tudo. Às vezes parece que só tem proveito aquele “restinho” que achávamos que não íamos conseguir. Aqueles cinco minutos a mais de estudo, na estafa, que nos fizeram entender a matéria da prova, aqueles dez minutos a mais de trabalho no desânimo que resolveram o nosso problema. Sertillanges fala algo como isso, que só o estudo “martirizante” que nos leva a aprender algo.

A zona de conforto nada nos dá. É só quando saímos dela que ganhamos algo. Se, ao fazer musculação, eu não sinto dor, não vou ganhar músculos. “No pain, no gain“, já dizia o maior professor de fisicultura (sim, o Arnold é professor universitário) que já existiu. Se eu quero que meu músculo cresça, eu tenho que “mostrar pra ele” que a força que ele tem não é suficiente. E eu faço isso exigindo dele mais do que ele pode aguentar. Se eu quero aprender algo novo, eu tenho que estudar aquela parte que dói (dói não perdeu o acento, né?), que não entra na cabeça de jeito nenhum. Na prática, é isso que eu não sei, o resto eu já sabia e apenas lembrei.

Continuemos: se eu quero crescer moralmente, eu tenho que fazer aquela coisa que é devida, mas que me repugna: pedir desculpas a alguém que eu morra de vergonha de fazê-lo, levantar da cama enlevado pela “melhor parte” do sono.  Temos ajudas, naturais (como botar Pantera no iPod) e sobrenaturais, quando temos a disposição, o assentimento, em passar dos nossos limites.

Ou do que acreditávamos ser limites.

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Viri Galilæi, quid statis aspicientes in caelum?

A solenidade da Ascensão do Senhor, celebrada ontem, é minha festa litúrgica favorita. Por vários motivos, um deles sendo a ela ter sido composta a mais bela polifonia de todos os tempos por Palestrina. Outro é a quantidade de mistérios que ela encerra. Toda a economia salvífica parece que está presente nesse episódio. Mas não é disso que eu quero falar.

Os discípulos ficaram olhando pra ascenção, babando, “admiramini“. Eis que chegam dois anjos e os avisam, não é para ficar babando, tudo segue como dantes. E eles voltam a Jerusalém, cum gaudio magno, pra continuar cumprindo o seu dever. Para uma pessoa cristã, a vida piedosa deve ser alimento. Ao beber das fontes sagradas, ao contemplar e adorar a Deus, isso deve enchê-la de energias (sem nova era, pelamordedeus!) para cumprir os seus demais deveres, para encontrar o sentido de sua vida e viver segundo ele, sem adiamento nem fugas. E é a isso que nos impele a Ascensão.

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São Tomás de Aquino não tinha o Google. Nossas bisavós não tinham telefone. Einstein não tinha periódicos acessíveis por um índice eletrônico. O que faríamos sem forno, sem microondas, sem internet, sem computador, sem máquina de lavar, canalização de água, de esgoto, sem revólveres, sem telefone, telégrafos, aviões?

Muita coisa.

É da folga moderna ficar limitado pelos meios. Podemos render mais que São Tomás de Aquino em suas pesquisas. Rendemos? Podemos derrotar, com uma arma de fogo, mais inimigos que Joanna D’Arc. Derrotamos?

Estava a ler “A Vida Intelectual”, do famoso Pe. Sertillanges, e ele comentava sobre a vida em família. A edição que tenho é da década de 40. Falava que se juntava a família em calma à noite, para ter um breve colóquio, às vezes o esposo tomava uma obra filosófica para ler e meditar, enquanto a família lhe fazia companhia silenciosa e tranquila. Na hora me veio à mente: “ele fala isso porque à época não existia televisão, que maravilha!”.

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Escuso-me da falha na semana passada, e não sei se manterei postando sempre às segundas-feiras. Mas apareçam, meus dois leitores, na próxima segunda-feira.

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Algumas pérolas lapidadas e alguns diamantes polidos:

“Será sensato, será normal deixar o investigador no gabinete de trabalho, ter assim duas almas: a do trabalhador e a do homem folgado que circula?” — Sertillanges

“Viver na presença de Deus é viver na presença da Verdade. Não só saber que Deus o vê mas também ver a Deus nas verdades manifestadas no mundo”

“Não haveria um só pagão, se nós fôssemos verdadeiramente cristãos” — São João Crisóstomo

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Lendo o Novo Testamento, reparei que quase todas as curas de paralíticos e ressurreições são seguidas de trabalho por parte do beneficiado. A sogra de Pedro foi ressuscitada e passou a servir os apóstolos. O mesmo Pedro mandou Enéias “arrumar-se” depois de curar-lhe a paralisia das pernas.

Não adianta nada, e nisso os ateus estão certos, ficar pedindo milagres em vez de trabalhar para alcançar o que se quer. Os dons do Sabedoria (como Salomão chamava a terceira pessoa) são gratuitos, mas ela quer que façamos jus a eles. Para que fazer-nos andar se for para ficar parados? Para que nos ressuscitar se é para não servir aos outros? Para que nos dar inteligência se não para usá-la para o bem? (não esse “sou do bem” descolado de hoje em dia, que até o Suplicy consegue ser, mas aquele bem que os gregos identificavam com a verdade e a beleza)

Para solucionar o natural, não receberemos milagres não. Quererá Deus que usemos todos os milagres que já recebemos: a vida, a saúde, a força, a inteligência. Tudo isso são milagres. E, quando sobrevierem necessidades sobrenaturais, o milagre terá que ser retribuído de nossa parte, se não de nada adiantará.

E Deus, ao contrário de nós, não perde tempo.

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Não sei se comentei aqui. Não lembro, e estou com preguiça de pesquisar. Matriculei-me em uma disciplina: Programação Linear Inteira (PLI). Meu objetivo com isso é múltiplo: ganhar ritmo de Unicamp, reforçar meus conhecimentos de Pesquisa Operacional, área em que anseio trabalhar e — este que vale destaque no blogue — fazer mais coisa.

“Quanto mais coisa eu faço, mais coisa eu faço”, brinco com meus amigos, que também sabem que vivo uma relação bem “entre tapas e beijos” (mais tapas que beijos) com o meu mestrado. Um breve histórico: apaixonei-me pela área no último ano da graduação. Entrei no mestrado num projeto um pouco diferente daquilo que queria, e isso e mais uma confluência de fatores — entre os quais a minha torpeza, que fique claro — me fez ser relapso e trabalhar muito menos do que deveria. Depois de dois anos, acabou minha bolsa, consegui um emprego “pra garantir o leite das crianças”, e isso atrapalhou o mestrado ainda mais. Tranquei um semestre para ganhar seis meses a mais para concluir e estou, neste momento, há 5 meses e alguns dias do meu jubilamento inexorável.

“Quanto mais coisa eu faço, mais coisa eu faço”. Na graduação, tenho viva memória, os meus melhores semestres eram aqueles em que me empenhava em mais atividades, sem muletas — fugas (farei isto para não fazer aquilo). Os semestres cheios (muitas obrigações) garantiam boas notas, vida social ativa, bom humor, e até emagrecimento. Nos vazios (poucas obrigações), as notas caíam, o humor piorava, a vida social se perdia e, claro, engordava horrores. O mestrado, o que é? Um monte de tempo livre pra você fazer o seu mestrado. Se você não tem disciplina, bau bau. Adiós, amigo! O fosso não tem fundo. Isso é meio que óbvio depois que você conhece muitos posgraduandos. Minha situação não é única, mas pode muito bem ser caricatural.

“Quanto mais coisa eu faço, mais coisa eu faço”. Com esse adágio em mente, matriculei-me em PLI (matéria de que gosto) com o Cid (professor de que gosto), uma disciplina pesada mas empolgante. Meio como uma musculação pesadíssima na qual a endorfina compensa a dor. E, fazendo essa disciplina, trabalhando 44 horas por semana, fazendo uma hora de oração por dia, estudando 15 a 30 minutos de italiano, pretendo também concluir o mestrado.

“Quanto mais coisa eu faço, mais coisa eu faço”. Isso é patentemente exagerado. Não mentiroso, exagerado. Tenho limites humanos. Meu dia só tem 24 horas, das quais não consigo dormir menos de 7 (e mesmo 7 é doloroso) meu físico e meu mental têm suas estafas, e tenho que tomar banho, ter roupas limpas, e outras coisas que me tomam tempo também. Uma hora eu vou quebrar, ou vou desistir e cair num ostracismo, se “trabalhar sem descanso”. Por isso, tenho muitas coisas a ponderar. Coisas a largar (ó dor do apego!), mudanças radicais e ousadas a serem feitas. Mas, sem disciplina, dedicação e ousadia — violência –, como quererei entrar no Reino?

Nisso tudo, há-se de ter um planeamento (pt_PT é muito bacana). Preciso, como conversava ontem com um nobre amigo, e hoje com outro, que me puxaram as orelhas (cada um, uma) sobre o mesmo aspecto — sem se conhecerem, o que é mais fantástico, e sem eu citar ao segundo que conversei isso com o primeiro –: preciso saber o que quero ser. Preciso ter uma idéia de quem é o Arqui-Pereira, o Über-Hanson, o LG ideal. Se eu não sei para onde quero ir, ou se tenho uma vaga idéia — quero ser santo (afirmar isso é uma tolice) — não chegarei a lugar algum. Se sei que quero ir para Quixeramobim, mas não sei que fica no Ceará, posso acabar caindo no Acre ou no Rio Grande. Se sei que fica no Ceará, mas não planejo minha viagem, posso demorar demais para chegar lá e acabar meu combustível e meu dinheiro para abastecer antes de lograr a chegada. Se planejo a minha viagem mas desvio minha rota, quanto antes desviar minha rota, mais longe ficarei da cidade. Propósito, planejamento, perseverança. São os 3 pês que devo lembrar diariamente.

“Quanto mais coisa eu faço, mais coisa eu faço”: consegui criar uma certa disciplina diária nos últimos dias, e cumpri-la ainda que parcialmente (mas sempre acima de 50%), de pequenas tarefas e propósitos diários. Isso não só me dá ânimo como me ajuda em outras atividades. O tempo que essas pequenas disciplinas tomam é como que recebido em dobro, quase como uma fonte de juventude. E, aliás, volto a elas.

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Você acredita em produtos miraculosos estilo “1406“? E se demostrassem um na sua frente? Eu comprei (na verdade, minha mãe) um ferro de passar assim, e não me arrependi. Ele funciona da seguinte maneira: coloque água e sal, ligue, e ele passa camisas no cabide! Digo isso porque foi o que eu acabei de fazer, passar camisas com ele.

Infelizmente, as tarefas domésticas são muito relegadas a segundo plano por mim. Não porque não lhes dou o valor devido, muito pelo contrário. Invejo sobremaneira minha mãe, que limpa a casa todo dia. Não porque as ache indignas de um engenheiro, talvez eu até me ache indigno delas. Mas “dá preguiça”, aquele pecado capital que quase todo mundo esquece.

Há alguns momentos na minha vida, e eu me lembro de dois em especial, que foi diferente. Em 2001 lembro-me de, em um sábado, varrer minha casa sem motivo aparente, apenas para mantê-la organizada. Não sei que bicho me picou pra fazer isso, dado que eu tinha uma consciência dos deveres muito menor naquela época. A outra foi ano passado, praticamente exatamente (lembre-se, um advérbio pode modificar outro advérbio) um ano atrás, pouco depois que conheci a história de Santa Teresinha. Inspirado pelas atitudes da santa, eu me pego lavando o banheiro, isso mesmo!, lavando o banheiro com balde, vassoura, sabão, etc. É triste ter que comemorar atitudes que deviam ser cotidianas, eu sei…

O fato é que muitas vezes o desânimo, o torpor, a acídia, atacam. Nessa hora é meio difícil saber o que fazer. “Faça alguma coisa”, “move on”, “tire a bunda da cadeira” são frases de efeito fáceis, mas difíceis de fazer efeito. Aí dá vontade de viajar, de andar (vagabundo significa aquele que vaga por aí, assim como nauseabundo é aquele que sente náusea por aí), de tudo, menos de cumprir com o necessário.

Tem um saite que me ajuda um pouco na empreitada. É o remember the milk. Ele permite que eu faça um todo-list e deixe-o no meu GMail. Pela própria interface do GMail eu consigo adicionar tarefas, que aparecem numa listinha em ordem de deadline. Quase todas na minha lista estão vencidas, é claro. Mas outro dia eu me peguei realizando o que eu tinha por fazer apenas para ter o prazer de tirá-los da lista. É um incentivo idiota, mas um incentivo! Recomendo o saite caso você seja preguiçoso ou esquecido, realmente ajuda.

E, por ora, termino as digressões, já que tenho muito por fazer (se eu não tivesse vergonha extrema, postaria uma foto da situação da minha casa neste momento), agradecendo ao Leo e ao Chico pelo café-da-manhã saudável, gratuito e agradável!

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Curte viajar? Viaja muito? Duas dicas: dopplr e “Dizem que eu viajo“. Obrigado por me ler, e até mais!

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Acho um absurdo a Igreja se meter assim nas questões de Estado! Ainda bem que a ciência prevaleceu sobre o obscurantismo, na questão das células-tronco embrionárias, ao contrário do que vimos em muitas ocasiões na história. Não podemos deixar a religião interferir na vida pública!

A oposição à escravidão, verificada no início do primeiro milênio, foi contra a base da economia romana, e contra o progresso material! Quando as luzes vieram, no renascimento, retomamos a escravidão, que nunca devia ter sido encerrada. E pra você ver como os católicos querem se meter na vida de todos, quando os bandeirantes quiseram botar os vagabundos dos índios pra trabalhar de escravos, os jesuítas não deixaram! Já na Idade Média, a regulamentação da tortura, obra de carolas, impediu que se torturasse alguém mais do que uma vez na vida e que se derramasse o seu sangue no processo, impedindo muitas investigações e tirando um poder lícito dos reis. Depois, a catequização dos índios e o combate ao infanticídio e às guerras fratricidas entre eles dizimou valores culturais antiqüíssimos, mostrando quão opressora é essa instituição.

Depois, na sociedade moderna, vemos que a Igreja impôs muitos de seus mandamentos na lei. Por exemplo, a proibição do assassinato acabou com o justo direito dos Estados sobre os seus cidadãos. E quer lei mais opressora que o atentado ao pudor? Por que não pode bacanais em público, como faziam os romanos? E o estupro, mero seguimento da natureza? Só são proibidos por causa da Igreja!

Não é só isso, em muitas outras coisas a Igreja e seus carolas interferiram nas leis até hoje, cometendo diversos impropérios e entraves à civilização! Por que não posso matar meus filhos se nascerem com deficiência? Por causa da Igreja! Pois onde ela não atuou, pode. Por que não posso bater na minha mulher caso ela me desobedeça? Por causa da Igreja! Onde esses reacionários católicos não têm vez, essa ação naturalíssima pode ser feita! Aliás, eu deveria ter o direito de matá-la a pedradas caso me traísse, mas os cristãos acabaram com esse direito!

E a pedofilia? Os gregos eram muito felizes com seus rapazotes, mas depois a Igreja, com seu moralismo, proibiu esse prazer! E os doentes? Que morram! Por que essa instituição tinha que se meter na vida dos saudáveis e inventar os hospitais? E ainda dar aos doentes direito de ser tratados gratuitamente, como pode? E essa história de educação gratuita e universidades? Invenção da Igreja Católica, o Estado não pode fazer isso! Por causa da Igreja, eu não posso arrancar a mão dos ladrões, matar o filho daquele que mata meu filho, eles impuseram uma série de coisas contrárias a tudo isso, que sempre foi feito na humanidade até a Igreja Católica se meter com seus tentáculos opressivos.

Está na hora de darmos um basta a esses que querem colocar seus valores religiosos nas leis. A luta continua!

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Sábado passado foi dia de Santo Expedito. Um problema que tive durante algum tempo na Igreja foi a devoção dos santos. Explico. Aquela coisa de beatas pegarem um santinho e fazer uma “reza milagrosa” não me cheirava bem. Eu não gostava daquilo, de jeito algum. E era só pedir, e depois ir até Aparecida acender uma vela. Não gostava, repito. E, se quer saber, ainda não gosto.

Uma das coisas emblemáticas disso é o “apelido” dos santos: Santo Expedito é o “santo das causas urgentes”. Então, se a sua filha já está ficando velha e ainda não casou, reza pra Santo Expedito! Se a prova é amanhã e você não estudou, reza pra Santo Expedito. E tem o santo casamenteiro, o santo das causas impossíveis, o santo disso, o santo daquilo, e o daquilo outro também. É estranho.

O Padre Euclides, de quem só não puxei mais o saco aqui no blogue que o Julio Lemos, deu uma revolucionada na minha cabeça soberba e botou a devoção aos santos nos trilhos. Os santos são importantes pelo que fizeram: pela marca, pelo sulco que deixaram no mundo; para o Pe. Euclides são importantes pelos seus defeitos e fraquezas.

Hein???

Ah, meu amigo! Vamos por partes. Todos nós temos fraquezas, tentações, vicissitudes. Os santos também tiveram. E a maioria teve muitas quedas, antes e depois da conversão. Estudando como eles lidaram com isso (e nem precisa ser “católico”, basta admirar as virtudes e querer imitá-las), podemos agir semelhantemente.

Não vou citar santo por santo. Há um livro excelente chamado “The saints according to their handwriting” (se você lê italiano, leia o original: il i santi dalla loro scrittura, ou algo assim), do Padre Girolamo Moretti. Já falei dele aqui, é um livro que faz análise (cega) grafológica de escritos de santos, e mostra suas qualidades, defeitos e tendências. Todos os santos foram humanos como nós. É claro que não temos as chagas de Cristo nem delas sai perfume, como São (Padre) Pio de Pietrelcina, mas nem por isso as tentações não o atacavam.

O caso de Santo Expedito, contudo, merece ser citado. Ele era um cara pagão e devasso, como geralmente são os pagãos. Apresentado ao Cristianismo, sentiu-se chamado à conversão. Ele podia deixar pra amanhã, foi o que um corvo falou pra ele: chegou perto dele e começou: “cras”, “cras”, que em latim (ele era soldado romano, latim era sua língua mãe) quer dizer “amanhã”. Ele olhou pro corvo e berrou: “HODIE” (não preciso traduzir, né?).

Por isso ele é o “santo das causas urgentes”. Não só: por se converter, foi chicoteado até as vísceras e depois decapitado. Isso que é martírio. Eu acho de uma mediocridade sem tamanho chegar pra um cara desse e pedir pra ir bem na prova. Mas acho justo e necessário pedir-lhe, por exemplo, inspiração e intercessão pra não deixar pra amanhã as coisas. Foi isso que ele fez, e é nisso que ele pode me inspirar. Posso recorrer a ele para coisas mais medíocres, como recorro a São Bento quando vou entrar em lugares potencialmente perigosos (beco, caminhos escuros, etc.).

Essas coisas me fizeram recobrar a “devoção aos Santos”, mas de uma maneira que considero mais de acordo com “o que Deus quer de nós”. Assim fui compondo o meu “devocionário”. A São José peço dedicação ao trabalho e atenção; a São Bento, que eu cumpra o “ora et labora”; à Virgem Maria, pureza, humildade, obediência; a Santa Bakhita, que eu aceite os sofrimentos que a vida me impõe, a Santo Expedito, que eu vença as tendências de procrastinação e grite “HODIE”. Isso que eles ensinaram com sua vida, com seus momentos de fraqueza e de fortaleza. E é isso o que eu peço em oração para eles. Já disse, é claro que tenho intenções medíocres muitas vezes, mas isso era pra ser exceção, e não regra.

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Um comentário ortogonal: estou em Brasília, e vim para cá de Congonhas na quarta-feira. Entre outros políticos, viajei com Michel Temer, o único cara no mundo que consegue ser de extremo centro.

Por falar em política e em PMDB, o Kassab conseguiu apoio do Ércia, vocês viram (meu tio o chama assim, porque “o resto do nome ele já perdeu faz tempo”)? O Ércia (ou Quércia, se preferirem) é o cara que manda, hoje, no MR-8, que por sua vez publica o fantástico “Hora do Povo“. O jornal soltou um caderno em homenagem ao Stálin ano passado, e quando começou a guerra do Iraque, soltou a seguinte manchete: “Bush invade Iraque contra governo democrático de Saddam”. Maravilha da humanidade.

Essa aliança me deixou muito feliz porque eu poderei ver o HP (e o MR8 ) falando bem do Kassab e do DEM. Essa eu quero ver mesmo, e vou dar muita risada! Mas ainda não foi dessa vez, eles soltaram uma manchete criticando (MUITO levemente, diga-se de passagem) o apoio ao Kassab, preferindo um apoio ao PT. Mas vejam que pérola de jornalismo encontramos no artigo:

“Quércia sempre foi o líder da resistência peemedebista à submissão aos tucanos. Durante os oito anos do desastroso governo de Fernando Henrique, o ex-governador manteve-se na oposição ao neoliberalismo e ao entreguismo, coerente com sua trajetória de identificação com o povo e com as aspirações pelo desenvolvimento nacional (…) Fernando Henrique e Serra saíram do PMDB para fundar o PSDB acusando Quércia, exatamente em virtude de suas qualidades (…): uma política econômica de acordo com os interesses nacionais, a vontade de ver o Brasil como uma grande nação, a promoção do bem-estar do povo e, não menos importante, a competência administrativa”.

Stupendo!

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No Natal eu vou ver o bom velhinho, e por isso comecei a estudar italiano. Se alguém quiser me dar uma força, bater papo em italiano daqui a um mês mais ou menos, quando vou ter uma base para uma conversa de crianças, ou algo assim, eu agradeço. Estou usando um método autodidata, que apesar do título asqueroso, parece muito bom: “O Novo Italiano Sem Esforço”, da editora Assimil (parece que é publicado no Brasil pela E.P.U.). Há outras línguas, todas “O Novo XYZ Sem Esforço”. Já sei, nas três primeiras lições (que tomam apenas dois períodos de 20 minutos a meia hora cada, uma por dia), conjugar o verbo ser/estar e haver/ter, algumas palavras básicas, os elementos constitutivos da pronúncia e algumas palavrinhas chave. (Ademais, o método é tão politicamente incorreto que na lição dois você já aprende a pedir cigarro, isqueiro e assento de fumantes no trem).

Scusi, lei ha una sigaretta?

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Na quinta-feira fui a São Luis, cujo centro achei semelhante à parte antiga e acabada do centro histórico de Santos. É triste, é um lugar caindo aos pedaços. A cidade não tem cara de capital, parece mais caiçara que muita cidade por aí e, apesar da beleza natural e da beleza que ainda resta em algumas construções antigas, é uma cidade deveras “enfeiada”. O Maranhão é o lugar mais politicamente atrasado do país, é o único lugar que ainda tem um dono. Mesmo sendo um estado de 4 senadores (afinal, Sarney é senador pelo Amapá!), se tem algum benefício político é capitalizado apenas para os políticos. Tem um litoral privilegiado para portos, e uma posição logística excelente (muito mais próximo dos EUA e da Europa que Santos ou Tubarão), mas não há vigor na economia local (muito diferente do que vi em Recife, por exemplo, cidade pujante).

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Eu gosto demais das benesses do progresso. Pegar um avião, botar um iPod na orelha, e abrir um livro comprado no aeroporto, ter a garantia que um corticóide te salvará de uma dor que causava suicídios outrora, é excelente. Mesmo que o livro aberto seja Ortodoxia do Chesterton e a música ouvida seja uma missa de Palestrina (minhas opções), isso só demonstra outra coisa ainda mais fantástica dos tempos atuais: você poder escolher “em que época você quer viver”. Um contemporâneo de Bach, por exemplo, apesar de ter acesso a “música popular” melhor, teria menos chance de escutar música mais antiga do que eu, mesmo em uma sala de concerto.

Mas não boto minha fé no progresso. O progresso não é garantido, não é linear, pode-nos levar a melhor ou a pior. Gosto do que ele me trouxe, gosto demais, mas não o coloco em um altar e lhe presto culto, apenas agradeço às gerações passadas e presentes pela genialidade e pelo trabalho.

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Falando em Ortodoxia do Chesterton, comprei o livro meio que “no susto”. Ao passar pela livraria Laselva, no aeroporto de São Luis, olhei a vitrine como sempre olho, para saber quais são os livros de auto-ajuda do momento e vi, em destaque num canto da vitrine lateral, “Ortodoxia”. “Não pode ser o do Chesterton” — pensei — e, ao ver que era (e custava menos de 20 reais), entrei, chamei um atendente — “quero o Ortodoxia do Chesterton” — que ficou meio perdido, mostrei-lhe o livro na vitrine, e ele pegou uma cópia para mim em uma das bancadas da frente. Surpreendeu-me realmente e positivamente ver uma edição brasileira do livro, e não pude me furtar a comprá-lo. Para fugir do meu vício de comprar e botar na estante, comecei a lê-lo quase imediatamente, deixando para trás a leitura que havia começado no aeroporto de São Luis.

Li os prefácios no aeroporto e aqui no avião (onde fiz uma pequena pausa para fazer os meus relatórios de horas e despesas e escrever estas linhas), os dois primeiros capítulos. Já recomendo. O livro está tabelado a R$19,90 — uma pechincha — e você encontra com descontos por aí (para clientes do Mais Cultura está a 17,91), a edição é bacaninha e a leitura é leve mas profunda. Assim que cessar a turbulência voltarei para ele (ou para a carta Encíclica Spe Salvi, de Bento XVI — o livro que comecei a ler em São Luis –, que também recomendo e pode ser baixada gratuitamente do site do Vaticano ou comprada a preços módicos em livrarias, em edição conjunta da Paulus e da Loyola), pois estou instigado com sua entrada no tema com a questão da loucura e da razão.

Chesterton diz, com maestria, que o louco, o lunático, não é aquele que perdeu a razão, mas aquele que perdeu tudo menos a razão. E diz que só pode apreciar a loucura aqueles que são sensatos. Para o abilolado, a loucura é absolutamente normal, e ele não vê naquilo graça alguma. Por isso os poetas estão distantes da loucura: ao abrir mão dos excessos de razão, imaginam, e imaginando fogem do que é normal, correm muito menos risco de serem loucos. Não dá para concentrar 20 páginas de um mestre em metade de um parágrafo de um pedante um pouquinho culto da Tatâmbia como eu, vá lá e leia. Se não quiser gastar, deve haver e-books legais por aí — a obra é centenária, e é por essa comemoração que foi publicada no Brasil.

É isso aí, vou tentar escrever com mais freqüência (agora principalmente que parei de passar mal em aviões, há um tempo bom a ser aproveitado aí) de novo! Obrigado por me ler e até mais!

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ou: πανκαταπυγια – δευτερος τομος

Neste último fim de semana tive um dos episódios mais dolorosos da minha vida, e dentre eles, o mais desesperador. Em 2001, tive apendicite, que por horas não me leva a complicações possivelmente letais. Em 2004, arranquei um ciso, e a picada da anestesia foi a dor mais intensa que já senti. Em 2006 tive cálculo renal, uma dor pior que a da apendicite, mas expelido rapidamente, pude obter o alívio com analgésicos e relaxantes. Na última semana, provavelmente causada por mudanças bruscas de temperatura, adquiri uma nevralgia do nervo facial esquerdo.

A nevralgia é uma inflamação dolorosa de um nervo. O nervo facial é vizinho do nervo trigêmeo e a nevralgia do trigêmeo, ou trigeminalgia, é conhecida como “doença do suicídio”, pois leva as pessoas a cometerem suicídio desesperadas pela dor. A minha nevralgia, graças a Deus, foi mais leve. O nervo facial dói menos, mas é igualmente desesperador. Não vou contar todo o meu itinerário hospitalar, mas digo que foi uma barra. Pouco antes de ser diagnosticado definitivamente, tudo que eu queria era que me dopassem, estava quase a implorar por isso, enquanto não conseguisse uma solução definitiva.

Contam da trigeminalgia que muitos são levados a arrancar dentes (às vezes metade da arcada), crendo que é uma dor de dentes. Passei por isso, por um bom tempo pensei se tratar de uma dor de dentes, e o desespero era tanto que eu aceitaria que arrancassem alguns deles, passando pelo doloroso episódio anestésico que já citei, para me livrar dela. Teria uma dor mais intensa ainda, mas breve, e que me curaria.

Há dores que curam. A picada de uma anestesia, a extração de dentes. Na vida, há outras dores mais sutis, que também são extrações. Ao falar de Amor, São Josemaria Escrivá relata de um discípulo que o escreveu dizendo que tinha “dor de dentes de amor”. O Santo disse que compreendia, e que gostaria que o discípulo o deixasse “fazer umas extrações”.

A dor de não amar verdadeiramente não é pungente como uma nevralgia ou a de um dente torto. E por isso não fazemos as devidas extrações, extrações necessárias para o reto caminho. Amar não é uma besteira de novela, não é um sentimento, acho que já falei demais disso por aqui, e o Julio falou melhor do que eu.

Só espero que ninguém (eu incluso) tenha que passar pelo desespero de uma “nevralgia da alma” para resolver o problema.

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Há muito o que falar de minhas recentes viagens, mas que fique claro: se há cidades com cultura no Brasil, essas são o Rio de Janeiro e Recife, além da óbvia São Paulo.

Aliás, o Rio de Janeiro é de uma elegância ímpar, parece que tudo lá cai bem. Os prédios geminados de Copacabana, ou as edificações antigas (e elegantérrimas) de Ipanema e da Urca, ou as Universidades da Praia Vermelha, tudo lá parece adequado, caindo bem, de acordo com a época construída. O prédio da UFRJ é um verdadeiro prédio universitário, não as caixas de concreto que vemos em São Paulo. E tem uma capela de invejar a mais antiga das PUCs.

Já Recife é mais high-tech. Em Recife há gruas, prédios e pobreza. É a Dubai brasileira, e é incrível como se percebe a diferença da colonização holandesa para a portuguesa sem saber descrever a diferença. É sutil, mas perceptível.

Agora Brasília é apenas uma coisa: moderna. Sendo construída na década de 60, tudo lá tem a cara da década de 70. Além disso, você tem a sensação de que tudo lá é estatal, é desesperador.

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Bons tempos em que só os rebeldes usavam tatuagem. Era preciso coragem, era doloroso e uma marca para a vida. Olhavamos para os tatuados e dizíamos: você teve coragem para fazer essa marca para toda a sua vida? Você envelhecerá, sua pele enrugará, e a tatuagem ficará feia. Geralmente recebíamos como resposta algo como: “eu sabia de tudo isso quando fiz a tatuagem”. Hoje em dia vemos “mocinhas de família” com nucas borboletadas e calcanhares estrelados. Se fizermos as mesmas perguntas que fizemos para o rebelde, receberemos um olhar de espanto ou, se a moça for mais inteligente, a esperança no progresso: a cirurgia destatuadora existirá quando ela estiver enfadada.

Quando o Júlio diz que o casamento é para rebeldes, é nisso que eu penso. Nossa pele enrugará, perderemos o desejo, enfadaremo-nos um do outro. E estamos marcados para sempre com o matrimônio. Os covardes dos anos 40 alimentavam a esperança na cirurgia descasadora: o divórcio. Ele veio a existir e o casamento, assim como a tatuagem, perdeu a graça, virou modinha. Só quem casa para sempre tem o prazer que aqueles rebeldes tatuados de 20 anos atrás tinham. Numa dimensão muito maior e mais profunda — é bom ressaltar.

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A minha perda de tempo favorita, Frets on Fire (uma espécie de Guitar Hero para jogar no teclado do computador), tem um sistema de pontuação simples: cada nota que você acerta vale 50 pontos. Se for uma nota longa, valerá mais. Conforme você acerta mais notas em seqüência você vai ganhando multiplicadores: suas notas passam a valer o dobro, o triplo, o quádruplo. Se errar, perde os multiplicadores. Sendo assim, se você erra 10 notas em seqüência você perde menos pontos do que se errar 10 notas espalhadas pela canção.

As músicas em geral tem bases chatas e solos difíceis, por exemplo, Cowboys from Hell do Pantera. Já acertei o solo inteiro, mas sempre erro a base. Quando vou melhor na base e pior no solo, consigo mais pontos que com um solo perfeito e diversos erros na base.

E isso é certo: um ato de heroísmo não compensa uma vida medíocre. O heroísmo diário, aquele de acertar o que não chama a atenção, vale mais pontos no fim das contas. Acertar aquele solo inteiro às vezes ajuda a minha pontuação a não ser tão baixa, mas eu nem chego a marcar uma pontuação digna de figurar entre as minhas melhores. Teresa de Lisieux vale mais que muitos heróis. Viveu o chato e invisível heroísmo diário. Ninguém viu o solo, a música que ela escolheu tocar não tinha um: foi o jeito que, na sua humildade, escolheu para ser perfeita.

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Do I look like a puritan? Um amigo achou estranho o fato de conversar sobre cigarro e beber na maior sem-cerimônia. Expliquei para ele que eu não era um puritano, mas preferia não ter que explicar. Como alguém que toca “Cowboys from Hell” pode ser puritano?

Aliás, tenho uma estratégia de marketing para os centros ascéticos: deveriam remodelar os hábitos para que ostentassem a seguinte mensagem: “Quer ser feliz? Pergunte-me como”.

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O ano começa com uma guerra entre as Satanistas pelo Dever de Matar (SDM ou SaDô-M), que se auto-intitulam “Católicas pelo Direito de Decidir (CDD)” e a Verdadeira Igreja. Basicamente, através de um contato na produtora, elas conseguiram colocar um depoimento no vídeo da Campanha da Fraternidade da CNBB deste ano, cujo tema é justamente a defesa da vida (tendo o anti-abortismo como pauta principal). A CNBB mandou cortar sua participação depois de receber reclamações de Fiéis (com F maiúsculo), retirar todos os vídeos e relançar o DVD limpo. Mas parece que o vídeo, mesmo sem as SDM, não é lá muito bom… Obra da irmã gêmea má da CNBB: CNBdoB (crédito da piada a Wagner Luís, do blogue “O Possível e o Extraordinário“). Parece que este artigo resume bem a situação (linque: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/impressa/brasil/conteudo.phtml?tl=1&id=729031&tit=DVD-traz-criticas-a-Igreja-Catolica-e-defesa-ao-aborto).

O supra citado “O Possível e o Extaordinário” e o site do pró-vida de Anápolis estão com uma documentação muito boa a respeito do tema.

O que me interessa aqui, e me motiva a publicar este post, é indicar textos que já saíram pressionando a CNBB, e a Sociedade do Verbo Divino para que tomem providências enérgicas e imediatas e manifestos de grupos católicos sobre o tema. O que segue pode receber novos linques nos próximos dias, então fique atento.

Manifesto da Sociedade Católica:

http://www.sociedadecatolica.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=77

Carta de Pedroso, Moura e Murat aos Verbitas:

http://blog.veritatis.com.br/2008/01/carta-aberta-aos-verbitas.html

Carta do “Veritatis Splendor” à CNBB:

http://www.veritatis.com.br/article/4707 

Mais por vir…

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Papa-batismo-2008

Este no meio, ajoelhado, é o Papa (não, não é Paulo VI nem João XXIII, nem Pio XII, nem nenhum anterior, é Bento XVI mesmo), celebrando uma Missa, no mesmo rito em que celebramos em nossas paróquias. O ano é 2008.

Vendo uma coisa sublime dessas, dá até para virar “progressista” e afirmar que o progresso acompanha os tempos: quanto posterior, melhor. Mas eu prefiro dizer que essa foi a melhor maneira que o Papa encontrou para dizer: “Feliz Ano Novo”

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Domingo passado eu fui à missa no Mosteiro de São Bento em São Paulo (Algumas fotos em: http://www.flickr.com/photos/pereira/sets/72157603444236637/ ). Não teve palmas nem canções animadas, embora a homilia tenha sido excelente, o pregador não era dotado de grande oratória. Contudo, a liturgia foi seguida à risca: todos os paramentos necessários, o rito fiel ao missal, e o canto gregoriano e o órgão, que seguiram a tradição litúrgica. Cheguei à missa entre 20 e 15 minutos antes de seu início, e fiquei de pé. A nave estava lotada. Depois do “Deo Gratias”, saí e passei por outras igrejas da região (há várias pelo centro de São Paulo) em que estavam sendo celebradas missas, também. Todas com meia dúzia de gatos pingados. Será que essa “missa popular” que resolveram inventar é tão popular assim? Missas com padres conservadores, que seguem as rubricas, que não inventam nada, que não “descobrem” que Jesus era um revolucionário, são as mais cheias. Essa idéia de missa (im)popular quase acabou com o catolicismo no Brasil. E, se não acabou por completo, foi unicamente por Graça do Espírito Santo.

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O patriotismo, sob um olhar cético e moderno, pode parecer inútil. Mas ele vem de uma realidade muito simples: o amor ao próximo. O amor nasce na família, e aumenta para os vizinhos, o bairro, a cidade, a nação. Mas a nação tem um algo a mais: não é apenas a proximidade. A proximidade é muito importante, basta ver os estados de fronteira (Rio Grande do Sul, por exemplo) que às vezes se identificam mais com os estrangeiros vizinhos que com o restante do país (no nosso exemplo, argentinos e uruguaios, outros gauchos). Mas a nação tem algo mais que une: a língua e a cultura. O que me une a um amazonense é Machado de Assis e a língua portuguesa. Se as variantes regionais se tornarem dialetos, perdemos a nossa ligação. O conceito de nação é muito mais forte que o de cidade ou província, pois este último delimita apenas uma região ou, no máximo, uma sub-cultura.

Mas há também aqueles que fazem um fetiche do patriotismo, obrigando o amor e a subserviência a todos os rumos do país. Ora, voltemos à vizinhança, se eu sair de um prédio e for morar em outro eu não estou “traindo” aquele condomínio, apenas, descontente, preferi buscar morada em outro lugar! Ainda assim, poderei manter laços naquele lugar. O mesmo vale para quem sai de um país e vai viver em outro. E, no outro, também deve nutrir um certo amor à pátria que o acolheu. Simples assim.

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O aprendizado das virtudes não é muito diferente do aprendizado de matemática. Quando aprendemos equações do segundo grau, fomos ensinados que devíamos usar aquela fórmula maluca. Alguns livros até davam a demonstração, geralmente ininteligível para uma criança brasileira, mas o que interessava era decorar.

Depois de decorar que bê quadrado mais quatro á cê era o delta, e que x era igual à menos bê mais ou menos raiz de delta sobre dois á, ou enquanto e para fazermos isso, íamos aos exercícios. Ficávamos, mecanicamente, repetindo aquele gesto. Era artificial, não acreditávamos muito, mas funcionava e dava resultado. Com o tempo, ganhávamos desenvoltura e podíamos partir para os problemas, aplicações “quase reais” daquilo que tínhamos aprendido.

Quando queremos desenvolver uma virtude, o processo é mais ou menos o mesmo. Tomemos a humildade. Se queremos ser humildes, temos que começar por aquela humildade forçada: “eu não presto”, “eu nunca consegui isso ou aquilo”, “eu não sou digno de amarrar as suas sandálias”. Repetimos mecanicamente, sem entender por que o fazemos, apenas com nossa mente voltada para aquele bem que queremos. Depois vamos para um menos forçado (e geralmente muito real): “se sou melhor que fulano, isso tem um motivo que não é mérito meu, se ele tivesse a mesma situação, ele seria muito melhor”. Com o tempo, podemos ir para os problemas: ser humildes, verdadeiramente humildes em toda a nossa vivência.

Até pode parecer estranho fazer com o amor (ou outra virtude qualquer) o que se fez com a fórmula de Bhaskara. Mas, se perdermos aquela mania infantil de perguntar “por quê” para tudo, com a confiança nos nossos propósitos e medir, a posteriori, a eficácia dos métodos, podemos ganhar muito e perder pouco.

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(This is a commentary to Mr. Lemos — IVLIVS AMANTIS:)

O amor não é um sentimento, mas o simples: “querer o bem do outro”[1,2]. Esse querer-bem é composto, contudo, por uma miríade de sentimentos[2]. E não há bem maior que ser salvo, alcançar a santidade e o Paraíso. Então, quando Julio deseja “Que este homem seja santo!”[3] ao transeunte, ele demonstra, por esse homem desconhecido, o maior amor que existe. Não sou eu quem digo, mas ele mesmo[3]!

Contudo, o caminho para se salvar é aquele velho conhecido amar “cristicamente” o outro[4]. E, o amor crístico, é o amor perfeito: o amor que quer a salvação. Aí surge a dimensão social da Salvação: para salvar-se é preciso querer salvar o outro, os outros, a humanidade inteira. São Paulo assinou sua sentença de salvação quando disse, com honestidade, que aceitaria ir ao inferno para que os demais fossem salvos.[4]. Quem se salva quase sempre leva alguém, alguns, junto. É esse o aspecto real, lógico e visível do que chamamos “Misericórdia de Deus”.

Referências:

[1] Bento XVI, PP: Carta Encíclica Deus Caritas Est.

[2] de Carvalho, Olavo: O Caráter como forma pura da personalidade.

[3]Feliz Nova Dieta: disponível em http://julio-lemos.blogspot.com

[4]Bíblia Sagrada, tradução da Vulgata Latina pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo

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No dia da consciência negra, que foi ontem, o ideal seria lembrar dos grandes homens e mulheres negros da história. No lugar disso, lembram dos medíocres. Além disso, um grande mulato (como a maioria dos grandes brasileiros: quase todos eram mulatos) seria lembrado em que dia? Não podemos lembrar dos mulatos no dia da consciência negra, negros eles não são. Nem brancos. Teríamos que criar o dia da consciência mulata, o dia da consciência mameluca, o dia da consciência cafuza, o dia da consciência oriental, o dia da consciência indígena, e por aí vai. Não dá, portanto, para lembrar de Machado de Assis ou Lima Barreto neste dia. Mas eu tenho, aqui debaixo da manga, um exemplo de consciência negra: uma mulher que, independentemente de cor, origem, situação social, econômica, deixou um exemplo para as gerações futuras e está, segundo a crença da Igreja, no céu no momento: Irmã Josefina Bakhita, ou simplesmente Santa Bakhita.

Santa Josefina BakhitaNascida no Sudão, Santa Bakhita foi raptada aos 10 anos de idade para ser escrava. Sofreu diversos maus tratos e o trauma fez-lhe esquecer o próprio nome: Bakhita é o nome que os seus senhores lhe deram. Em árabe significa afortunada. Foi escrava no Sudão e, depois de muito tempo, foi comprada por um cônsul italiano, o primeiro senhor que a tratou com respeito. Quando do fim de sua missão diplomática, Bakhita pediu-lhe que a levasse consigo para a Itália. Na Itália, o amor e a proteção que recebeu de Deus sentiu a necessidade de retribuir. Tornou-se irmã canossiana. Ela mesma escreveu:

“Irmãos, se estivesse de joelho por toda a minha vida, não diria nunca a minha gratidão ao Bom Deus. Estive raciada, batida, perseguida…entravi a liberdade e fui pretendida novamente, amarada a cepos e correntes… O meu corpo é toda uma cicatriz. Fui respeitada pelos leões da floresta, no entanto os homens me prendiam outra vez e me vendiam como coisa.
Todavia senti-me protegida por um Ser Superior, apesar eu não conhecê-lo. Sentia-o no coração sem saber quem Ele fosse. Porém, agora o conheço e sou toda dele.”

Conta-se que Bakhita freqüentemente orava pelos seus antigos senhores, não os culpando pelos atos que fizeram contra ela, já que eles não conheciam o Senhor, que Bakhita carinhosamente chamava de “Patrão”. No fim da vida, ela foi atormentada pela lembrança da escravidão e via-se presa por correntes. Suas últimas palavras foram “Nossa Senhora!”. Cativou a muitos, era conhecida como “Irmã Morena”, e o carinho que distribuiu foi retribuído na hora de sua morte: vários vieram passar com ela nos seus últimos momentos na terra.

Santa Bakhita jamais se justificou, nunca disse que sua oração era melhor ou pior por ter sido escrava, ou por ser negra. Soube fazer, de sua vida, de seu sofrimento, exemplo, carinho e santidade.

Referências:

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O pecado está em toda a parte, frutifica entre religiosos e leigos, entre fariseus e publicanos. Jesus nos mostra isso claramente no apedrejamento da adúltera. Aqueles homens, cheios de furor justiceiro, vendo que são também pecadores, retiram-se, começando do mais velho. O pecado, esquece-se a mídia e muita gente, também está nas igrejas, nas congregações, e nas associações de leigos.

Há algum tempo, não muito, imagino que uns 3 ou 4 anos, houve um furor relacionado ao Opus Dei: saiu um livro chamado “Opus Dei — Os bastidores”, que conta histórias terríveis. O linque para o site do livro, com alguns trechos, é este: http://www.jeanlauand.com/page0.html. Verídicas ou não as estórias narradas, não é esse o meu escopo. Minha experiência com a Obra (maneira que alguns chamam o Opus Dei) é pequena, assisti a algumas palestras e um curso em sedes dispersas, e conheci alguns membros.

Se ligamos esses acontecimentos narrados, caso verídicos, ao pecado do homem, a história termina aí: conhecemos o tipo de pecado a que estão mais propensos os membros da Obra. Cada modo de vida dá uma propensão a uns ou outros pecados, e isso é natural. Contudo, o contexto em que se insere o livro (uma fundação chamada Opus Livre, copiada da espanhola Opus Libros) pretende imputar essas falhas estruturalmente ao Opus Dei, e não a seus membros. Os problemas que ocorrem seriam, para essas pessoas, causados pelo que se constitui o Opus Dei.

Para quem não conhece o Catolicismo, faço um pequeno parêntese: quando Roma declara que um homem é santo, isso significa que ele já alcançou a Salvação, já contempla, agora e pela eternidade, a face de Jesus Cristo. A Igreja dá esse reconhecimento para pessoas que deixaram as marcas de sua santidade na terra. São Josémaria Escrivá foi declarado santo pelo mesmo motivo que todos os outros, e a marca de sua santidade é o Opus Dei.

É impossível dizer que o Opus Dei é “podre”, “ruim em si”, sem com isso discordar de Roma. A contrariedade à obra se converte, por um silogismo simples, em contrariedade ao catolicismo. Pois, se a obra que santificou um homem é ruim, ele não é santo, e portanto a Igreja erra. Se a Igreja erra, eu não posso crer nela, ter fé. Logo não posso ser católico. Portanto, quem diz defender a Igreja e atacar o Opus Dei ou está mentindo, ou foi enganado.

Reitero: não conheço o Opus Dei, mas quanto mais conheço São Josemaria Escrivá, mais tenho certeza de que é um dos maiores santos. Tenho poucas dúvidas de que será decretado doutor da Igreja em breve. E, para ilustrar, adiciono aqui dois vídeos:

http://www.opusdei.org.br/art.php?p=24905

http://www.opusdei.org.br/art.php?p=24621

Também, se quiser ler os livros de São Josemaria, há um site que os disponibiliza integralmente, sem custo, em Português e outras línguas. Comecei a ler o “Caminho”, e recomendo vivamente. Cá está o site:

http://www.escrivaworks.org.br/

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