Sábado passado foi dia de Santo Expedito. Um problema que tive durante algum tempo na Igreja foi a devoção dos santos. Explico. Aquela coisa de beatas pegarem um santinho e fazer uma “reza milagrosa” não me cheirava bem. Eu não gostava daquilo, de jeito algum. E era só pedir, e depois ir até Aparecida acender uma vela. Não gostava, repito. E, se quer saber, ainda não gosto.
Uma das coisas emblemáticas disso é o “apelido” dos santos: Santo Expedito é o “santo das causas urgentes”. Então, se a sua filha já está ficando velha e ainda não casou, reza pra Santo Expedito! Se a prova é amanhã e você não estudou, reza pra Santo Expedito. E tem o santo casamenteiro, o santo das causas impossíveis, o santo disso, o santo daquilo, e o daquilo outro também. É estranho.
O Padre Euclides, de quem só não puxei mais o saco aqui no blogue que o Julio Lemos, deu uma revolucionada na minha cabeça soberba e botou a devoção aos santos nos trilhos. Os santos são importantes pelo que fizeram: pela marca, pelo sulco que deixaram no mundo; para o Pe. Euclides são importantes pelos seus defeitos e fraquezas.
Hein???
Ah, meu amigo! Vamos por partes. Todos nós temos fraquezas, tentações, vicissitudes. Os santos também tiveram. E a maioria teve muitas quedas, antes e depois da conversão. Estudando como eles lidaram com isso (e nem precisa ser “católico”, basta admirar as virtudes e querer imitá-las), podemos agir semelhantemente.
Não vou citar santo por santo. Há um livro excelente chamado “The saints according to their handwriting” (se você lê italiano, leia o original: il i santi dalla loro scrittura, ou algo assim), do Padre Girolamo Moretti. Já falei dele aqui, é um livro que faz análise (cega) grafológica de escritos de santos, e mostra suas qualidades, defeitos e tendências. Todos os santos foram humanos como nós. É claro que não temos as chagas de Cristo nem delas sai perfume, como São (Padre) Pio de Pietrelcina, mas nem por isso as tentações não o atacavam.
O caso de Santo Expedito, contudo, merece ser citado. Ele era um cara pagão e devasso, como geralmente são os pagãos. Apresentado ao Cristianismo, sentiu-se chamado à conversão. Ele podia deixar pra amanhã, foi o que um corvo falou pra ele: chegou perto dele e começou: “cras”, “cras”, que em latim (ele era soldado romano, latim era sua língua mãe) quer dizer “amanhã”. Ele olhou pro corvo e berrou: “HODIE” (não preciso traduzir, né?).
Por isso ele é o “santo das causas urgentes”. Não só: por se converter, foi chicoteado até as vísceras e depois decapitado. Isso que é martírio. Eu acho de uma mediocridade sem tamanho chegar pra um cara desse e pedir pra ir bem na prova. Mas acho justo e necessário pedir-lhe, por exemplo, inspiração e intercessão pra não deixar pra amanhã as coisas. Foi isso que ele fez, e é nisso que ele pode me inspirar. Posso recorrer a ele para coisas mais medíocres, como recorro a São Bento quando vou entrar em lugares potencialmente perigosos (beco, caminhos escuros, etc.).
Essas coisas me fizeram recobrar a “devoção aos Santos”, mas de uma maneira que considero mais de acordo com “o que Deus quer de nós”. Assim fui compondo o meu “devocionário”. A São José peço dedicação ao trabalho e atenção; a São Bento, que eu cumpra o “ora et labora”; à Virgem Maria, pureza, humildade, obediência; a Santa Bakhita, que eu aceite os sofrimentos que a vida me impõe, a Santo Expedito, que eu vença as tendências de procrastinação e grite “HODIE”. Isso que eles ensinaram com sua vida, com seus momentos de fraqueza e de fortaleza. E é isso o que eu peço em oração para eles. Já disse, é claro que tenho intenções medíocres muitas vezes, mas isso era pra ser exceção, e não regra.
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Um comentário ortogonal: estou em Brasília, e vim para cá de Congonhas na quarta-feira. Entre outros políticos, viajei com Michel Temer, o único cara no mundo que consegue ser de extremo centro.
Por falar em política e em PMDB, o Kassab conseguiu apoio do Ércia, vocês viram (meu tio o chama assim, porque “o resto do nome ele já perdeu faz tempo”)? O Ércia (ou Quércia, se preferirem) é o cara que manda, hoje, no MR-8, que por sua vez publica o fantástico “Hora do Povo“. O jornal soltou um caderno em homenagem ao Stálin ano passado, e quando começou a guerra do Iraque, soltou a seguinte manchete: “Bush invade Iraque contra governo democrático de Saddam”. Maravilha da humanidade.
Essa aliança me deixou muito feliz porque eu poderei ver o HP (e o MR8 ) falando bem do Kassab e do DEM. Essa eu quero ver mesmo, e vou dar muita risada! Mas ainda não foi dessa vez, eles soltaram uma manchete criticando (MUITO levemente, diga-se de passagem) o apoio ao Kassab, preferindo um apoio ao PT. Mas vejam que pérola de jornalismo encontramos no artigo:
“Quércia sempre foi o líder da resistência peemedebista à submissão aos tucanos. Durante os oito anos do desastroso governo de Fernando Henrique, o ex-governador manteve-se na oposição ao neoliberalismo e ao entreguismo, coerente com sua trajetória de identificação com o povo e com as aspirações pelo desenvolvimento nacional (…) Fernando Henrique e Serra saíram do PMDB para fundar o PSDB acusando Quércia, exatamente em virtude de suas qualidades (…): uma política econômica de acordo com os interesses nacionais, a vontade de ver o Brasil como uma grande nação, a promoção do bem-estar do povo e, não menos importante, a competência administrativa”.
Stupendo!
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No Natal eu vou ver o bom velhinho, e por isso comecei a estudar italiano. Se alguém quiser me dar uma força, bater papo em italiano daqui a um mês mais ou menos, quando vou ter uma base para uma conversa de crianças, ou algo assim, eu agradeço. Estou usando um método autodidata, que apesar do título asqueroso, parece muito bom: “O Novo Italiano Sem Esforço”, da editora Assimil (parece que é publicado no Brasil pela E.P.U.). Há outras línguas, todas “O Novo XYZ Sem Esforço”. Já sei, nas três primeiras lições (que tomam apenas dois períodos de 20 minutos a meia hora cada, uma por dia), conjugar o verbo ser/estar e haver/ter, algumas palavras básicas, os elementos constitutivos da pronúncia e algumas palavrinhas chave. (Ademais, o método é tão politicamente incorreto que na lição dois você já aprende a pedir cigarro, isqueiro e assento de fumantes no trem).
Scusi, lei ha una sigaretta?
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