Feeds:
Posts
Comentários

Posts Tagged ‘verossímil’

Uma das coisas que o Olavo de Carvalho mais ressalta a seus alunos é a questão da honestidade intelectual. Honestidade intelectual é dizer que sabe o que se sabe, e que não sabe o que não se sabe. Mas a coisa é mais profunda.

Quanto sabemos de algo? Temos certeza? Achamos provável? Verossímil? É meramente possível? O Olavo separa os graus de certeza nesses quatro, e isso é essencial para se conhecer qualquer coisa. Quantas vezes dizemos que “temos certeza” quando não temos? “Tenho certeza que isso não vai acontecer” e, batata! Acontece. Ou então “estudei esta fonte e nela aprendi que isso é assim, como estudei, tenho certeza!”. E assim vai.

O primeiro passo e saber categorizar tudo que sabemos e que não sabemos, como diz o Olavo, fazer o “inventário” dos nossos conhecimentos. Vamos descobrir que temos certeza absoluta de pouquíssimas coisas. Que reputamos várias como prováveis, inúmeras como verossímeis e uma infinidade como possíveis.

Em cima disso, ele desenvolve a teoria dos quatro discursos. Não vou entrar em detalhes, mas falar apenas de alguns detalhes. A cada grau de certeza corresponde um dos discursos aristotélicos: analítica, dialética, retórica e poética. Quando lemos algo em nossos estudos, e aquilo tem coerência interna (retórica), geralmente ele entra no nosso rol de conhecimentos como verossímil. À medida que recebemos dados de várias fontes, dados contraditórios, que nos colocam em dúvida, nossa mente faz o confronto dialético entre eles e vai surgindo uma certeza maior, a da probabilidade. E a maior parte dos nossos conhecimentos nunca passará daí. Teremos certeza de pouquíssimas coisas nessa vida. Mas um grau altíssimo de probabilidade é quase uma certeza.

Nesse ponto, devemos seguir o conselho de Sócrates (ou seria de Platão?): “verdade conhecida é verdade obedecida”. Do contrário, seremos hipócritas. Devemos viver segundo o que “acreditamos” (não num sentido de crendice, mas segundo nossa reta razão julgou provável), para que saibamos julgar se aquilo é, de fato, verdadeiro ou falso. É o julgamento da realidade sobre as crenças. Não é mais a nossa mente que separa o verdadeiro do falso, mas a realidade faz isso por nós.

Se dizemos que um conhecimento provável é uma certeza, meteremos os pés pelas mãos (principalmente se ele for falso). Viveremos de maneira errada e não prestaremos atenção ao que a realidade nos diz sobre aquilo. Do contrário, se dizemos que um conhecimento provável é verossímil (por exemplo), não o submeteremos ao teste da realidade, e não chegaremos a certeza alguma. Por isso é preciso, diariamente, com retidão e sem escrúpulos julgar cada coisa que acreditamos, e saber com que grau de certeza. Esse é o princípio de todo conhecimento racional.

Read Full Post »