No dia da consciência negra, que foi ontem, o ideal seria lembrar dos grandes homens e mulheres negros da história. No lugar disso, lembram dos medíocres. Além disso, um grande mulato (como a maioria dos grandes brasileiros: quase todos eram mulatos) seria lembrado em que dia? Não podemos lembrar dos mulatos no dia da consciência negra, negros eles não são. Nem brancos. Teríamos que criar o dia da consciência mulata, o dia da consciência mameluca, o dia da consciência cafuza, o dia da consciência oriental, o dia da consciência indígena, e por aí vai. Não dá, portanto, para lembrar de Machado de Assis ou Lima Barreto neste dia. Mas eu tenho, aqui debaixo da manga, um exemplo de consciência negra: uma mulher que, independentemente de cor, origem, situação social, econômica, deixou um exemplo para as gerações futuras e está, segundo a crença da Igreja, no céu no momento: Irmã Josefina Bakhita, ou simplesmente Santa Bakhita.
Nascida no Sudão, Santa Bakhita foi raptada aos 10 anos de idade para ser escrava. Sofreu diversos maus tratos e o trauma fez-lhe esquecer o próprio nome: Bakhita é o nome que os seus senhores lhe deram. Em árabe significa afortunada. Foi escrava no Sudão e, depois de muito tempo, foi comprada por um cônsul italiano, o primeiro senhor que a tratou com respeito. Quando do fim de sua missão diplomática, Bakhita pediu-lhe que a levasse consigo para a Itália. Na Itália, o amor e a proteção que recebeu de Deus sentiu a necessidade de retribuir. Tornou-se irmã canossiana. Ela mesma escreveu:
“Irmãos, se estivesse de joelho por toda a minha vida, não diria nunca a minha gratidão ao Bom Deus. Estive raciada, batida, perseguida…entravi a liberdade e fui pretendida novamente, amarada a cepos e correntes… O meu corpo é toda uma cicatriz. Fui respeitada pelos leões da floresta, no entanto os homens me prendiam outra vez e me vendiam como coisa.
Todavia senti-me protegida por um Ser Superior, apesar eu não conhecê-lo. Sentia-o no coração sem saber quem Ele fosse. Porém, agora o conheço e sou toda dele.”
Conta-se que Bakhita freqüentemente orava pelos seus antigos senhores, não os culpando pelos atos que fizeram contra ela, já que eles não conheciam o Senhor, que Bakhita carinhosamente chamava de “Patrão”. No fim da vida, ela foi atormentada pela lembrança da escravidão e via-se presa por correntes. Suas últimas palavras foram “Nossa Senhora!”. Cativou a muitos, era conhecida como “Irmã Morena”, e o carinho que distribuiu foi retribuído na hora de sua morte: vários vieram passar com ela nos seus últimos momentos na terra.
Santa Bakhita jamais se justificou, nunca disse que sua oração era melhor ou pior por ter sido escrava, ou por ser negra. Soube fazer, de sua vida, de seu sofrimento, exemplo, carinho e santidade.
Referências:
- http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20001001_giuseppina-bakhita_po.html
- http://www.iserv.com.br/capela/santos.asp?st=20
- http://www.fdcc.org/it/canossiane/bakhita/menubak.htm
- Diversas homilias dos Padres José Paulo e Pedro, na Igreja de Santa Bakhita em Santos
[i]é eu estave procurando um ex e foi muito util esse site …..muito bom!!
lindo, maravilhoso UM EXEMPLO DE VIDA, mto bom.