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Posts Tagged ‘limite’

Conservar algo é quase tão difícil quanto conquistá-lo. Vejamos os campeonatos de boxe. O lutador conquista o cinturão e outros tentarão tomá-lo dele. Terá que continuar a vencer as lutas para mantê-lo consigo. Ou peguemos Arnold Schwarzenegger. Esses dias apareceu uma foto do governator na praia, sem camisa, cheio de pelancas. Ele que já foi Mr. Universo. Obviamente ele não continua a fazer musculação no ofício de governador. Ou o estudo de línguas. Se não praticamos uma língua dela esquecemo-nos. Quando terminar o estudo de italiano, se partir para o de francês igorando-o, em breve esquecê-lo-ei.

Qualquer atividade que empreendemos, devemos pensar na aquisição e na conservação. Tem aquela estatística dos regimes: depois que as pessoas emagrecem, a maioria volta a engordar. Porque se esquecem que devem conservar depois.

No fim, o esforço de aquisição foi só perda de tempo. É claro que há aquelas atividades, como andar de bicicleta que se diz que não se desaprendem. Há de se estudar as peculiaridades e as diferenças, e entender a natureza das aquisições para, assim, poder conservá-las adequadamente.

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O tempo seria inútil não existisse a morte. A morte é ontologicamente anterior ao tempo. Só há tempo porque há morte. Ou há morte e tempo, ou nem tempo e nem morte. Por isso existe a vida finita e a eternidade.

A morte, já o disse, é a guia da vida. Só porque morremos é que temos afinco. Se tivéssemos «tempo infinito», poderíamos fazer tudo com calma. Os ateus são mais trabalhadores e dedicados que os reencarnacionistas. Os agnósticos adquirem mais virtudes que o povo da «sola fide». Os reencarnacionistas acreditam ou em vidas sucessivas até atingir uma «iluminação» ou algo parecido, ou em um número finito e maior que um de vidas após o qual virá o juízo. Os ateus e agnósticos acreditam que morrerão, e quando morrer passarão a ser húmus, que é uma espécie de cocó. Então ou hão de «praticar a sexualidade» num carpe diem rasteiríssimo, ou deixar «um mundo melhor para seus filhos», por nutrir-lhes um amor gratuito, que não sabem de onde vem, mas decerto o sentem.

Partamos da idéia de Leibniz, de que a realidade não poderia ser melhor do que é. Mais de uma vida é inútil, porque uma e três vidas são igualmente insignificantes em relação à eternidade. Assim como o limite de 1/n e 3/n quando n tende a infinito é igualmente zero. Ademais, o que é melhor, ter uma vida de 60 anos ou três de 20? Sendo que na de 60 anos você vai acumulando sabedoria em vez de voltar duas vezes à «tábua rasa»? Poderá responder o contendor que três vidas de 60 anos permitiriam mais progressos que uma única de 60. Mas Deus, destarte, nos daria 180 anos, volte ao Leibniz lá.

Vamos à outra hipótese: Deus nos daria tantas vidas quanto precisássemos para cumprir uma determinada «missão». Ora, seria melhor cumprir a dita missão rapidamente do que demoradamente, mas a escolha divina não seria pedagógica. Ao nos dar «tempo infinito», não nos daria incentivo algum. Se o tempo não for infinito, voltamos ao caso do parágrafo anterior, igualmente irracional. Ainda poder-se-ia argumentar que alcançaríamos a felicidade plena tão logo cumpríssemos o dever, então isso seria incentivo para cumpri-lo logo. Quanto a isso podemos dizer: um dever no mundo está sujeito às restrições do mundo. Então seria um dever determinado no tempo. Se voltamos depois, teríamos outro dever, e Deus não pode mudar de idéia, não é mesmo?

Só a hipótese da vida única faz sentido lógico e real. Só a hipótese da eternidade faz sentido teleológico.

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